São Roque é uma mistureba de culturas e etnias. Aliás, essa é cara do Brasil. Você já pensou como foi e é importante a imigração para a formação de um povo? Imagine as influências que tivemos. O vinho, a alcachofra, a música, entre outras coisas.

Quando eu era pequeno morava na casa de meus avós paternos que eram vinhateiros. Aos domingos recebíamos clientes que vinham comprar vinho e todo mês vinha um grupo de portugueses. Grande mesa na varanda do sítio com uma toalha da Ilha da Madeira que era tão branca que doía nos olhos. Depois do almoço Seu Adelino pegava sua viola pequena (que parecia um cavaquinho) e todos iam para o terreiro cantar e dançar em roda. No meu imaginário infantil aquilo era sinônimo de felicidade. Vai ver que era mesmo.

Mais tarde pude conhecer de perto a cultura italiana. Descobri várias histórias de perto e me emocionei com cada uma delas. Imagine uma família chegando ao porto de Santos e tendo como única opção seguir a linha férrea trabalhando na sua construção e sobrevivendo ao mesmo tempo? Crianças, mulheres e homens sobreviveram a isso.

E sabe-se lá por que durante a construção resolveram parar na pacata cidade de São Roque e aqui fazer sua morada. Eles escolheram isso. Foi uma decisão de vida. Os mais idosos contam que assim que chegavam os italianos ocupavam os montes em São Roque. Assim, de um dia para o outro, podia se ver casas de madeira surgindo e logo em seguida algumas vinhas. Desta forma o morro ia se povoando.

Não era incomum vê-los à noite sentados em círculos com cobertores nas costas cantando canções tradicionais italianas e contando histórias da sua terra. Ali nascia uma verdadeira cultura. Como se pudessem abrir sulcos na terra com as próprias mãos iam jogando a semente dos seus saberes por nossa terra e nos ajudaram a ser o povo que somos hoje. Aqui vieram como ponto de chegada, mas na verdade partiram para uma nova vida.

Rogerio Alves, maestro e produtor cultural