Cemitério Maldito: nova adaptação de Stephen King é uma “viagem ao inferno” | Cultura

Em 2018, o AdoroCinema teve a oportunidade de visitar as filmagens de Cemitério Maldito, no Canadá, e conversar com os atores principais, Jason Clarke (Planeta dos Macacos: O Confronto) e John Lithgow (The Crown).

Na trama de terror, Clarke interpreta Louis Creed, um médico que se muda para uma cidade pacata com a esposa e os filhos, e descobre nas redondezas um cemitério de animais. Quando seu gato é atropelado numa estrada, Louis percebe que o cemitério é capaz de trazer os mortos de volta à vida, mas quando retornam, eles não são exatamente os mesmos… Seguindo os conselhos de um vizinho misterioso (Lithgow), Louis será tentado a experimentar o fenômeno com seres humanos também. Mas quem está pronto para ver um familiar voltar dos mortos?

Adaptado do clássico “O Cemitério” de Stephen King, Cemitério Maldito já foi adaptado ao cinema em 1989, e ganha uma versão moderna sob direção de Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, dois especialistas do terror vindos do cinema independente. A estreia está marcada para 4 de abril nos cinemas.

Descubra o que os atores têm a dizer sobre o projeto:

Do livro ao filme

“O que me atraiu no roteiro, e mesmo no livro, foi a possibilidade de perguntar ‘O que você faria?’. Se tivesse um filho morto, e pudesse trazê-lo de volta, você o faria?”, questiona Jason Clarke. “Eu tento não pensar nos meus próprios filhos nessa hora, porque como ator tenho que me colocar inteiramente dentro do personagem.

“Além disso, o livro é bastante explícito com os detalhes do acidente. Deve ser horrível ver um garotinho de três anos morto, vestindo um terno no velório. O material é muito sombrio. Mas é isso que torna o filme especial: é quase uma versão alternativa de Frankenstein, porque você tem que lidar com o fato de trazer algo de volta à vida”.

“Eu li o livro, mas nunca vi o filme de 1989”, contrapõe Lithgow. “Mas sei que o filme original era mais fiel à literatura do que este aqui, que toma algumas liberdades e prefere ser fiel ao espírito do texto. Fizemos mudanças grandes desta vez, então imagino que também seja diferente do filme original. A minha versão de Jud é um pouco mais muda e introspectiva do que me pareceu no livro”.

“Ele sabe que existe a possibilidade de trazer algo morto de volta à vida, mas também sabe que esse segredo é perigoso. Para ele, o maior conflito se encontra entre dividir esse segredo ou mantê-lo consigo. Quando você atua, é preciso observar os dois lados da natureza de alguém. Ele tem esses dois lados: ele tem uma natureza boa, mas foi transformado em alguém taciturno”.

Atores míticos

Esta foi a primeira vez que os dois atores dividem a cena no cinema. Jason Clarke garante que o convívio com o colega foi uma das melhores partes do processo:

“Sempre soube que o nosso relacionamento seria fácil. Quando me disseram que John Lithgow tinha sido escolhido, eu comemorei. Tenho muito respeito por esses atores de uma geração anterior à minha. São atores míticos, com muita experiência de vida e de atuação, que já fizeram teatro, cinema, e já enfrentaram todos os papéis icônicos”.

“Logo, começamos a conversar sobre nossas escolhas, preferências, os filmes que vimos… A interação veio naturalmente no set. Não precisamos forçar esta proximidade para as filmagens. De qualquer modo, se uma cena está difícil demais de filmar, é porque existe algo errado com ela. Com o John, foi tudo fácil.

Lithgow concorda. “Estou triste que as filmagens estejam acabando. As principais cenas se foram, e agora eu basicamente ando pela floresta à noite e observo Jason Clarke cavar túmulos com uma pá! As cenas com ele foram ótimas, e espero que tenham ficado tão boas quanto pareceram para mim”.

“O encontro entre eles é como um tabuleiro de xadrez: temos duas pessoas boas, que tentam se ajudar e gostam uma das outras, mas a tentativa dá totalmente errado. Isso é algo muito interessante de contar no cinema”.

Relação de pai e filho

Na história, Louis e Jud são mais do que vizinhos. O que une os dois homens é uma relação paterna, como explica Lithgow:

“Jud imediatamente se agarra a essa nova família, porque vê Louis como um filho, e se conecta com essa garotinha de nove anos de idade. Para mim, qualquer idoso que se conecte tão facilmente com crianças é alguém com bom coração. As crianças percebem isso”.

“Mas ele carrega consigo muito pesar e muita culpa, por ter passado por um trauma forte durante a vida. Isso o transformou. Ele era um homem bom, promissor, que se tornou uma figura triste e perturbada”.

Clarke vê o seu personagem dividido entre a vida comum e os acontecimentos excepcionais: “Louis é um personagem bastante direto: um pai, um médico. Os diretores me pediram para assistir a alguns filmes como referência, incluindo a cena de Daniel Day-Lewis perto da fogueira em Sangue Negro. Eu precisava acreditar nele, porque é um sujeito comum que toma uma atitude horrível. O que ele faz no final então, nem se fala. É doentio!”

“Este é um horror completo, porque não tem apenas sustos, mas também mostra a perda do herói, transformado em algo terrível quando tenta brincar de Deus. Uma criança morta, um poder que ele não controla… Que viagem ao inferno! O que existe lá fora é assustador, mas o mais cruel é o que todos nós podemos nos tornar em determinadas circunstâncias”.

O tabu da morte

O filme possui alguns desafios de produção, como filmar a morte de animais, a morte de crianças pequenas… Os atores concordam que esta foi a parte mais delicada do projeto, mas revelam uma informação importante: o pequeno Gage Creed foi interpretado por gêmeos, já que a legislação canadense impede que crianças pequenas filmem durante muitas horas por dia, e a equipe precisaria do garotinho durante o máximo de tempo possível.

“A garotinha (Jeté Laurence) é ótima, mas com os garotos (Hugo Lavoie e Lucas Lavoie) fica mais difícil”, confessa Clarke. “Eles são duas crianças de três anos de idade, e é preciso ter muito cuidado com elas num filme desses. Eles são capazes de uma atuação incrível, mas nem sempre. É desafiador para os meninos e a mãe deles. Às vezes eles têm um comportamento difícil, e dois minutos depois eles nos surpreendem”.

Clarke ainda brinca: “Estamos tentando o nosso melhor, mas se não der certo, vamos acabar colocando uma tela azul em algum lugar e fazer modificações digitalmente! Para a cena da morte da criança, nós trabalhamos com um boneco, é claro. Jamais faríamos isso com uma criança de verdade. Seria errado, tanto moralmente quanto legalmente”.

Lithgow traz uma boa discussão sobre o tabu da morte, tanto para o autor quanto para os americanos em geral:

“Stephen King certamente se preocupa muito com o tema da morte, após tantas obras com esse tema. Talvez o público não-americano tenha uma interpretação melhor sobre esta questão do que nós, que participamos de guerras no mundo inteiro, mas derramamos pouco sangue em nosso próprio território desde a Guerra Civil”.

“Na Europa, as pessoas viveram com a morte a vida inteira, e nesse sentido os americanos são ingênuos. É ótimo fazer um filme de gênero sobre a morte e levar este tema a sério, em sua complexidade. Tenho uma sensação profunda de estar trabalhando em um grande filme”.

Diretores “mais espertos do que eu”

O que esperar dos diretores Kölsch e Widmyer, ainda desconhecidos pelo grande público? Lithgow garante que a dupla tem um conhecimento profundo dos códigos do gênero:

“Os diretores são divertidíssimos. Eles comem, bebem e respiram filmes de terror, e por isso estão encarando essa tarefa com um comprometimento especial. Eles me lisonjearam um pouco ao dizerem que eu era o único ator que queriam para o papel de Jud, o que provavelmente não é verdade. Mas em parte, é por isso que eu disse sim, então funcionou!”, admite Lithgow.

“Eles são muito abertos ao que Jason, Amy Seimetz e eu temos a dizer. Quando recebi o roteiro pela primeira vez, fiquei incomodado com três ou quatro coisas que não tinham muito sentido para mim. Antes mesmo de me encontrar com eles, nós conversamos por telefone durante 45 minutos e fiquei feliz ao descobrir que estes três detalhes também tinham incomodado os dois, e já tinham desaparecido numa nova versão do roteiro”.

“Então me disseram: ‘Mal posso esperar para te mostrar a nova versão do roteiro, que responde a todos esses questionamentos!’. Isso me fez entrar no projeto. Percebi que eles eram espertos, e ainda mais espertos do que eu!”, conclui.

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