É fogo! | O Democrata

Fogo, fumaça e fuligem têm manchado a paisagem e os pulmões são-roquenses nas últimas semanas.

A leve chuva que banhou alguns pontos de São Roque na última terça-feira amenizou levemente o odor de queimado e o ar seco que vêm prejudicando bastante a respiração da população, atingindo mais gravemente crianças e idosos.

Porém, há uma coisa que chuva alguma é capaz de lavar e arejar: a mentalidade do bicho homem que, de forma inconsequente e indigna, de propósito ou por mera irresponsabilidade, incendeia propriedades públicas e particulares, matando a flora e a fauna e pondo em risco a vida e a saúde de inúmeras pessoas, pela inalação da fumaça exalada e pela diminuição da visibilidade do entorno dos locais queimados.

Geralmente, a chegada da primavera é que, em regra, registra os maiores recordes dos índices anuais de queimadas urbanas e rurais, devido à estiagem peculiar aos meses de julho e agosto, que deixa a vegetação mais ressequida, propícia a incêndios.

Neste ano, entretanto, a estiagem está adiantada e o homem não perde tempo em aproveitá-la em prejuízo do meio ambiente.

Porém, ar e vegetação secos, sozinhos, não são capazes de gerar fogo, exceto em situações especiais de extremo calor, em que focos de incêndios brotam de modo espontâneo.

Todo o mal reside na conduta das pessoas que insistem na persistência dos maus hábitos de jogar cigarros acesos onde a mata está inflamável; acumular resíduos da poda de suas plantas para, quando secos, atear-lhes fogo ou, simplesmente, incendiar terrenos para se eximir do trabalho de roçada.

Nas últimas semanas, muitas pessoas têm usado as redes sociais para externar indignação em relação aos incendiários que andam soltos por aí a pôr fogo em propriedades particulares e públicas, e, também, para relatar, no mundo virtual, os incômodos reais  provenientes das queimadas, tanto para a manutenção da limpeza das casas e a lavagem das roupas quanto para a respiração de adultos e crianças, pois a qualidade do ar, com umidade naturalmente baixa nos tempos de seca, torna-se ainda pior pela fumaça e seu odor.

A alta frequência de  pessoas com dificuldades e problemas respiratórios nos hospitais locais nos últimos dias também revela, com clareza, a extensão e a gravidade dos danos  à saúde provocados pelas queimadas.

As queimadas ocorridas na região de São Roque apenas confirmam uma prática e um problema que há séculos está presente em todo o Brasil.

Nas 48 horas anteriores à elaboração deste artigo, os equipamentos do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que  realizam o Monitoramento de Queimadas e Incêndios, registravam 296 focos de incêndio no País, sendo que não são captadas ocorrências que atingem áreas inferiores a 30 metros de extensão por 1 metro de largura ou sob céu encoberto por nuvens ou, ainda, que não chegam às copas de árvores, em casos de mata mais fechada.

Mesmo sem computar inúmeras queimadas, como as últimas que afetaram São Roque, os registros do INPE apontam o Brasil no deplorável terceiro lugar da escala dos países poluidores.

É importante que a população esteja preparada para tomar providências em caso de queimadas desencadeadas voluntária ou involuntariamente.

A Base da 2ª Companhia da Polícia Militar de São Roque orienta que, identificados focos de queimadas, urbanos ou rurais, em propriedades públicas ou privadas, deve-se acionar o Corpo de Bombeiros, pelo telefone 193, e, havendo informações sobre quem iniciou o fogo, deve-se chamar a Polícia Militar, pelo 190, para seus agentes abordarem o infrator, conduzindo-o à Delegacia de Polícia onde será lavrado o Boletim de Ocorrência por infração à legislação ambiental. A partir daí, o Delegado de Polícia tomará as medidas cabíveis.

Grandes ou pequenas, as queimadas causam danos ambientais, pessoais ou patrimoniais, de modo que essa prática precisa ser combatida.

Quintais não são locais para se queimar resíduos de qualquer espécie e terrenos não são cinzeiros para se jogar cigarros, tidos como desencadeadores de incêndios de grandes proporções às margens das estradas.

Cultivar esses hábitos denota “ignorância, preguiça e má-fé”, como disse José Bonifácio de Andrada e Silva, em 1820, ao avaliar o impacto negativo das queimadas no Brasil.

Quase dois séculos após essa avaliação de Bonifácio, é triste concluir que a ignorância, a preguiça e a má-fé só aumentaram, consolidando-se numa crônica falta de consciência ambiental, cujos resultados maléficos são cada dia mais sentidos, como provam, por exemplo, as constantes queimadas que destroem a Região Norte do Brasil, comprometendo irremediavelmente a Floresta Amazônica.

É fogo ver São Roque a queimar, espalhar fumaça e fuligem e cheirar a cinzas!

Simone Judica é advogada, jornalista e colunista de O Democrata (simonejudica@gmail.com.br).

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