Moradores da rua Cassiano Ricardo, em São Roque, estão em pânico por causa do grande número de escorpiões aparecendo em suas residências

O dia de Miriam Silva de Oliveira, que mora na rua Cassiano Ricardo, bairro Jardim Santa Maria, em São Roque, começa com ela dobrando as cortinas, vendo todos os pares de sapato, abrindo as portas do guarda-roupa e revirando todos os focos onde possam ter escorpiões. Miriam tem um bebê de sete meses, que teve a sorte de não ser picado, pois um escorpião “passou a noite toda no mosquiteiro do berço dela. E se meu bebê é picado?” disse a moradora.

Miriam não é única moradora do bairro que vem sofrendo com a infestação de escorpiões. “Todo dia tenho que procurar pelos bichos que estão invadindo a minha casa diariamente. Já fomos à prefeitura e até agora nada foi feito. O serviço de zoonoses veio até o bairro e disse para nós aprendermos a conviver com o animal, pois eles não poderiam fazer nada. Já virou uma situação de saúde pública este caso”, disse Miriam.

Na casa em frente a de Miriam, mora o senhor José Ednaldo Martins de Almeida, que foi picado enquanto dormia, por sorte, ele agiu rápido e procurou ajuda médica. “Estava dormindo quando senti algo andando em meu rosto, quando fui tirar, ele acabou picando meu dedo”, disse José.  O morador informou que todos os dias encontra os animais andando pelo quintal, paredes e cômodos da casa.

“Todo dia acho pelo menos quatro escorpiões, coloquei até galinhas para tentar diminuir o foco, mas não esta adiantando, precisamos de ajuda e informações que possam acabar com estes animais, pois não estou conseguindo viver na minha própria casa. Quando a zoonoses veio aqui, eles disseram que não podiam fazer nada e que era para nós tomarmos cuidados e aprender a conviver com os escorpiões. Só nesta rua, eu e meu irmão já fomos picados, precisamos de ajuda urgente”, finalizou José.

“Na rua, existem aproximadamente 15 casas, na maioria delas, constantemente aparece escorpiões, eu mesmo já tirei diversos potes cheio deles, José nos mostra um pote com mais de 50 escorpiões e nos informa que quando foi picado, ficou sabendo que São Roque não possui soro contra a picada de escorpião.

“Quando cheguei para ser atendido fiquei sabendo que não tinha soro em São Roque e que os casos de picadas eram transferidos para outras cidades. Como uma cidade que tem denúncias de diversos focos não possuí soro”, indagou José.

Alerta

De janeiro a setembro de 2018, o Ministério da Saúde registrou mais de 90 mil acidentes com escorpiões no Brasil. A Região Sudeste lidera o ranking com quase metade dos casos. No interior de São Paulo, os ataques de escorpião têm assustado os moradores. E não é para menos. Em 2018, nove crianças morreram vítimas de picadas no interior de SP. E em alguns casos, a ação do veneno foi muito rápida. É o caso de Nicoly, de 9 anos, que morava em Bariri e foi atacada no quintal da casa, recebeu o soro antiescorpiônico, mas teve várias paradas cardiorrespiratórias. Em Araçatuba, Pablo, de 9 anos, também não resistiu ao veneno do bicho. Ele morreu 24 horas depois de ser internado.

Bióloga dá dicas para os moradores

A redação do Jornal O Democrata fez um trabalho minucioso e entrevistou Érika de Moraes Cerioni, Bióloga formada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Entomologia e Controle de Pragas Urbanas pela UNESP – Rio Claro e Responsável Técnica da Empresa Servitec Cerioni na área de Controle de Pragas Urbanas.

Na entrevista, Érika tirou algumas dúvidas com intuito de tranquilizar os moradores destas áreas de risco.

“O grande aumento do número de escorpiões em nossa região e em todo o Brasil, está ocorrendo principalmente pelo aumento da temperatura e pelo inverno cada vez mais curto e menos significativo, e também pelo crescimento das áreas urbanas e do acúmulo de entulhos e lixo nestas áreas. Falando um pouco dos hábitos dos escorpiões, eles são animais noturnos tanto para a procura de alimentos como para a reprodução. Seu alimento preferido nas áreas urbanas são: baratas, mas grilos, moscas, cupins e outros insetos fazem parte de sua dieta. Como a sua maior atividade é no período noturno, os escorpiões se escondem no período diurno geralmente em frestas, restos de entulhos de construções, locais com muitas pedras, áreas de linha férrea, locais com acúmulo de madeiras, terrenos baldios, casas abandonadas e em jardins sem a devida conservação e com fartura de alimentos”, disse Érika.

A bióloga também atentou que os escorpiões gostam de lugares limpos, onde existem insetos e baratas. “Locais relativamente limpos, mas que sofrem com infestação de insetos, principalmente de baratas, são ambientes adorados pelos escorpiões. Vale ressaltar que a presença destes aracnídeos se deve, muitas vezes, às condições favoráveis fornecidas pelo próprio homem tendo como consequência a ocorrência de acidentes com crianças e adultos”, completou a bióloga.

Érika também disse que a picada do escorpião em crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, pode ocasionar um estado clínico grave levando até a morte.

“Em casos de picada, o local deve ser lavado com água abundante e sabão neutro. Procure assistência médica para o tratamento, que é sintomático (o médico indica o tratamento de acordo com os sintomas apresentados), mas geralmente é feito o uso de analgésico para dor, pois a picada é bastante dolorida. O uso de soro antiescorpiônico é somente utilizado para casos mais graves. O ideal é cuidar do seu ambiente e do entorno, manter as áreas limpas. Mas quando há incidência e o escorpião aparece, a área deve ser tratada” alertou a bióloga.

Métodos e vários inseticidas que matam os escorpiões

Érika que é Especialista em Entomologia e Controle de Pragas Urbanas pela UNESP – Rio Claro e Responsável Técnica da Empresa Servitec Cerioni na área de Controle de Pragas Urbanas, nos informou que diversos métodos de controle de escorpiões são feitos pela empresa Servitec Cerioni.

“Existem vários métodos de controle de escorpiões e vários inseticidas que matam a praga. Mas são produtos específicos para uso profissionais registrados pelo Ministério da Saúde e da Agricultura, e obviamente não são encontrados para venda ao público comum, pois devem ser usados por pessoas treinadas e empresas especializadas em controle de pragas e licenciadas para esta atividade. Fique atento, não contrate qualquer um para cuidar da saúde do seu ambiente e da sua família. Procure uma empresa especializada e legalizada no controle de pragas urbanas”, finaliza a bióloga.

Questionamos a Prefeitura de São Roque, Departamento de Saúde e Serviço de Zoonoses na segunda-feira, dia 14, sobre quais medidas vem sendo tomadas para acabar com estes problemas. Ou apenas “aprender a conviver com os escorpiões é a solução”?
Também questionamos, se a prefeitura não poderia contratar uma empresa de dedetização para acabar com este problema dos escorpiões. Também alertamos para o sofrimento dos moradores do bairro Jardim Santa Maria, e questionamos se alguma medida irá ser tomada.

Mas até o fechamento desta matéria, a prefeitura não deu nenhum tipo de resposta ou informação sobre o caso. Enquanto o Poder Público não se manifesta , os moradores convivem diariamente com escorpiões andando pelas paredes, se alojando em sapatos, roupas e berços de bebê…!