Cientistas estudam protetor solar com antioxidante para prevenir câncer | Saúde e Bem-Estar


Um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) revelou que o uso de antioxidantes é capaz de prevenir as consequências da exposição à luz ultravioleta (UVA) do sol.

Os pesquisadores estudaram células de pacientes com xeroderma pigmentoso variante (XP-V), uma doença genética rara, e verificaram que a luz UVA provoca danos na capacidade de reparação das células, que podem ser evitados quando tratados com antioxidante. A descoberta abre a possibilidade de desenvolver protetores solares capazes de prevenir lesões e o câncer de pele.

O paciente com xeroderma pigmentoso apresenta deficiência no reparo das lesões do DNA causadas pela luz solar, o que pode gerar mutações. Já no caso da XP Variante, outra manifestação da doença, o defeito é na replicação do DNA contendo lesões. O resultado, no entanto, é o mesmo: os pacientes apresentam pele seca e extremamente sensível ao sol, além de terem um risco duas mil vezes maior de desenvolver câncer de pele abaixo dos 20 anos.

Comandada pelo professor Carlos Frederico Martins Menck, do Departamento de Microbiologia do ICB, a pesquisa inovou ao analisar o efeito da luz UVA em células de pacientes com XP-V e em células sem o defeito – até então, os cientistas estudavam os efeitos de UVB e UVC.

“UVC é completamente barrada pela camada de ozônio e apenas 5% de UVB conseguem passar. Enquanto isso, 95% de UVA atingem a nossa superfície. Nesse sentido, trabalhar com UVA nos aproxima de nossa realidade”, explica.

Lesões

Durante o estudo, os pesquisadores descobriram que, de quatro a seis horas após a irradiação de UVA, as células sofrem um processo oxidativo que inibe o reparo do DNA. “Esse efeito foi muito mais grave nas células com o defeito XP-V. Embora tenham um sistema de reparo normal, a luz UVA gera radicais de oxigênio capazes de inibir esse reparo, ou seja, de impedir a remoção dos dímeros de pirimidina”, acrescenta.

Os dímeros de pirimidina são as principais lesões provocadas pela radiação ultravioleta. Como tentativa de solucionar o estresse oxidativo nas células, o pesquisador utilizou o antioxidante N-acetilcisteína (NAC) para tratar células XP-V antes de irradiá-las.

Com isso, descobriu-se que o antioxidante funciona como um método de prevenção. “Quando tratamos as células com antioxidante antes da irradiação, elas ficam mais preparadas para enfrentar a oxidação”, aponta o professor. “Assim, as proteínas responsáveis pelo reparo não são oxidadas e as células sofrem menos, de uma maneira geral”, diz.

Segundo Carlos Frederico Martins Menck, a próxima etapa é testar os tipos de antioxidantes, verificar qual é mais eficiente no tratamento dessas células e discutir a possibilidade de produzir um protetor solar com a substância. “Acreditamos que o antioxidante nos cremes solares poderá prevenir os danos na capacidade de reparação da célula, prevenindo assim o câncer de pele em pacientes com XP-V e, por que não, na população como um todo”, afirma.

Corrida pela cura

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP também estão testando, em camundongos, uma técnica que associa corrente elétrica de baixa intensidade a uma formulação contendo quimioterápicos nanoencapsulados para o tratamento de câncer de pele.

Resultados preliminares do estudo foram apresentados nos Estados Unidos, durante a Fapesp Week Nebraska-Texas, organizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em setembro.

“Um dos desafios para esse tipo de tratamento tópico é fazer com que o fármaco consiga atravessar o estrato córneo, a camada mais superficial da pele, composta basicamente de células mortas. Essa é uma importante barreira do tecido contra a entrada de microrganismos, mas também dificulta a penetração de medicamentos”, explica Renata Fonseca Vianna Lopez, professora da FCFRP.

Aplicar uma corrente unidirecional de baixa intensidade é uma das formas de fazer com que substâncias químicas atravessem a pele, sendo empurradas até a circulação pelo campo elétrico. Essa técnica é conhecida como iontoforese.

Outra pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, em colaboração a Universidade da Carolina do Norte (UNCC), em Charlotte, nos Estados Unidos, propõe a associação de nanopartículas e de terapia fotodinâmica para o tratamento do câncer de pele não-melanoma, com a expectativa de diminuir os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais.

O interesse do grupo da UNCC em estabelecer uma parceria com o Grupo de Óptica do IFSC surgiu em razão dos pesquisadores norte-americanos não terem expertise na área de óptica, mais especificamente em terapia fotodinâmica.

“Conheci o Grupo durante um congresso em São Francisco, onde os pesquisadores do IFSC fizeram uma apresentação interessante que envolvia a técnica. Entrei em contato com eles e estabelecemos essa primeira parceria”, relembra Juan Vivero-Escoto, professor da universidade norte-americana que tem estudado nanopartículas, com a finalidade de utilizá-las juntamente com a substância fotossensibilizadora no tratamento de câncer de pele não-melanoma, por meio da terapia fotodinâmica.

Prevenção e alerta

Pessoas com múltiplas pintas ou sinais pelo corpo, feridas que não cicatrizam ou que apresentem lesões pigmentadas nas palmas das mãos e plantas dos pés devem procurar o hospital para o diagnóstico. O câncer de pele é o crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele.

A radiação ultravioleta é a principal responsável pelo seu desenvolvimento. A doença é mais comum em pessoas de pele clara, com mais de 40 anos. O surgimento está diretamente ligado à exposição prolongada ao sol sem a proteção adequada. É o câncer mais frequente no Brasil e corresponde a 30% de todos os tumores malignos registrados no País.

O câncer de pele tem formas de prevenção que podem ser adotadas como um hábito. É essencial que se faça exame dermatológico anual, adotando como parte da rotina de avaliação médica, além de analisar as aparições pela pele. Mesmo a incidência ocorrendo em indivíduos de pele clara e olho claro, a recomendação é para todos ficarem atentos. A autoavaliação é importante, mas a procura de um especialista é indispensável.

Por disso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia trabalha na campanha “Dezembro Laranja” há, pelo menos, 20 anos. organizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Todo fim de ano, são organizados mutirões de atendimento para identificar possíveis casos e oferecer exames de forma gratuita. O Hospital das Clínicas é um dos postos de atendimento da campanha, entre muitos, em todo o País.

Os exames dermatológicos completos analisam toda a extensão da pele. A médica Jade Cury Martins, dermatologista do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), explica como e por qual motivo é realizada essa análise. “As palmas das mãos e as solas dos pés podem ter pintas escondidas que o paciente nem viu e que, às vezes, podem dar problema. O exame vai da ponta da cabeça à ponta do pé. A gente examina a pele inteira”, destaca.

Há os casos de melanoma, mais graves e raros, em que o autoexame é a Regra ABCDE. A doutora Jade Cury Martins orienta como é a análise. “Tem que ver aquelas pintas marrons, escuras. Se ela é assimétrica, onde eu divido ela em fatias e um pedaço não é igual ao outro, se as bordas são irregulares, se ela tem múltiplas cores, se o diâmetro é mais extenso e se ela está evoluindo. Nesse caso, eu tenho que procurar o especialista antes de um ano”, explica.

O sol tem grande participação na aparição do câncer de pele, por conta da radiação. Mas a dermatologista explica que dá para aproveitar os raios solares, necessários para o corpo, de forma propícia.

“Evitar os horários de radiação mais intensa, entre 10 e 16 horas. Caso não dê para evitar, procure ficar na sombra ou em guarda-sol. Além do filtro solar, que tem que ser aplicado diariamente até nos dias nublados e reaplicado a cada duas horas, eu posso usar outras medidas: chapéus de abas largas, óculos com filtro UV, roupas e o exame anual, que é muito importante”, orienta.

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