Com o surto de febre amarela no último ano, vários brasileiros se viram diante de uma dúvida: eu já tomei essa vacina? A grande maioria não sabia a resposta. A indicação foi revacinar os adultos mesmo que muitos já tivessem tomado a vacina.
O calendário de vacinação não é usado apenas para as crianças, mas muitos adultos o abandonam ao longo da vida e só se vacinam em grandes campanhas ou casos de epidemia.
O resultado disso é que atualmente o Brasil não tem uma cobertura vacinal de adultos nem perto do desejado. Todas as quatro vacinas recomendadas para pessoas de 20 a 59 anos estão abaixo do considerado ideal de cobertura vacinal.
Na tríplice viral, por exemplo, a taxa de cobertura é baixíssima (4,7%) — situação se mantém na hepatite B, na dupla dT e dTpa e na febre amarela (apesar do surto recente).
Calendário de vacinas
Desde 2004, o Ministério da Saúde passou a definir calendários de vacinação por ciclos de vida. Também regulamentou a vacinação do adulto e idoso para as vacinas dT (dupla- difteria e tétano) de acordo com a situação vacinal anterior, instituiu a vacina dupla viral ou tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) para o adulto do sexo feminino até 49 anos e do sexo masculino até 39 anos, em casos em que não se sabe a situação vacinal e estabeleceu a vacina influenza (gripe) em dose anual.
Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda 4 vacinas para adultos entre 20 e 59 anos:
- Hepatite B – Três doses, de acordo com a situação vacinal
- Febre Amarela – Uma dose se nunca tiver sido vacinado
- Tríplice Viral – Se nunca vacinado, são duas doses para quem tem 20 a 29 anos e uma dose para 30 a 49
- Dupla adulto (DT) – Reforço a cada 10 anos
Apesar do calendário, o Ministério da Saúde não estabelece metas de cobertura vacinal anual em adultos como faz com as vacinas infantis e também não faz balanços anuais. Um dos maiores problemas é a falta de um denominador específico, como o número de nascimentos anuais no caso das vacinas infantis, que ajude a compilar melhor os dados.
Resultados ruins
Segundo dados do ministério, das vacinas do calendário adulto a única que passa dos 50% de cobertura acumulada entre 1994 e 2018 é a da febre amarela com uma cobertura de 78,8%.
Em boletim epidemiológico com dados até 2013, o Ministério da Saúde fez um balanço do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e relatou as dificuldades da vacinação em adultos: “Um dos grandes desafios do PNI: alcançar altas e homogêneas coberturas vacinais em grupos que ainda não lograram bons resultados. Teríamos, como exemplos, a vacinação de adolescentes e adultos contra hepatite B, gestantes com coberturas adequadas para a vacina dupla adulto e população em áreas de risco para a febre amarela, dentre outros.”
O mesmo boletim relata que de 1994 a 2013 a taxa de cobertura vacinal acumulada da hepatite B em adultos ficou em 46%. Desde então, apesar da vacina ter sido introduzida também na rotina para adultos de 30 a 39 anos em 2013, a cobertura vacinal caiu para 39,4%.
Apesar de não estabelecer metas anuais para cobertura, no relatório de 2013 o Ministério da Saúde estabelece o ideal de cobertura vacinal para cada vacina dos calendários. Todas as vacinas recomendadas para adultos estão abaixo do que o PNI considera uma cobertura vacinal adequada.
A tríplice viral e a hepatite B deveriam estar com 95% de cobertura. A dupla (dT e dTpa) e a febre amarela deveriam atingir 100%. Mesmo com o surto de febre amarela em 2018, a cobertura vacinal ainda não chegou a 80%.
E muitas vezes, segundo ele, os não-vacinados se beneficiam da proteção indireta de quem está vacinado, já que com uma cobertura vacinal alta alguns vírus circulam menos. Apesar disso, os índices baixos não deixam de ser preocupantes.
O sarampo, considerado erradicado em 2016, voltou a registrar surtos em 2 estados do país, segundo o Ministério da Saúde. Amazonas e Roraima registraram 463 casos confirmados da doença.
Por que adultos não se vacinam?
O problema não é exclusivo do Brasil. Culturalmente, diversos países focaram na vacinação infantil nas últimas décadas, quando o objetivo era diminuir as taxas de mortalidade infantil para doenças como sarampo, poliomelite e paralisia.
Nos EUA, por exemplo, mais adultos morrem de doenças preveníveis por vacinas do que crianças, diz Kfouri.