O professor e historiador Paulo Silveira Santos registrou os cem anos de fundação da Santa Casa de Misericórdia de São Roque no Jornal O Democrata, na edição de 3 de fevereiro de 1973 (sábado). Abre o texto dizendo que “transcorre hoje, sábado, 3, o primeiro centenário de um acontecimento marcante na nossa terra”. No entanto, é curioso que o historiador cite o dia 3 quando o principal hospital da região foi oficializado no dia 2 de fevereiro de 1873 como registra a ata de fundação. A data é confirmada por Joaquim Silveira Santos, pai de Paulo Silveira, no capítulo XXXI da série de artigos “São Roque de Outrora” publicada na primeira página de O Democrata entre 1936 e 1938.
“A primeira reunião efetuou-se como disse, a 2 de fevereiro – dia escolhido de propósito pois ficou a Irmandade sob o patrocínio de Nossa Senhora da Conceição [então comemorado nesse dia]”, escreve Joaquim Silveira Santos.
O artigo de Paulo Silveira Santos traz uma série de detalhes históricos que o Arquivo Vivo resgata. O ano de 1873, foi marcado por outro fato fundamental para o município com a instalação da Comarca de São Roque. As duas conquistas tiveram as participações fundamentais dos irmãos Antonio Joaquim da Rosa (Barão de Piratininga) e o Comendador Inocêncio (Manuel Inocêncio da Rosa). O Comendador foi provedor da fundação até a morte em 1889 e o Barão, primeiro tesoureiro.
O aumento da população com a construção da Estrada de Ferro Sorocaba, “criou uma série de problemas de ordem social e foi então que o Comendador Inocêncio, na condição de presidente da Câmara Municipal, tomou a iniciativa de apresentar a proposta de criação da Santa Casa em 15 de janeiro de 1872.
“Aprovado o projeto, tomou ele [Comendador Inocêncio], durante todo o ano as providências necessárias, obtendo, inclusive, por intermédio do Barão de Piratininga, uma verba de dois contos de réis, fornecidos pelo Governo [da Provincia, hoje Estadual], quantia fabulosa para a época. Completou-a, de seu bolso e, assim, por três contos e seiscentos mil réis adquiriu enorme prédio na rua 3 de maio (hoje Dr. Cesário Motta) e ali instalou-se, com os recursos do tempo, um bom hospital.
Outra dúvida é levantada quanto ao primeiro endereço da Santa Casa. Joaquim Silveira Santos fala que uma das primeiras providências foi a compra de um prédio, mas como documentos da Santa Casa foram extraviados ele conseguiu confirmar a compra de um imóvel na rua 13 de Maio (hoje, rua Marechal Deodoro) ao consultar documentos pessoais do Comendador Inocêncio.
No entanto, no artigo do Centenário de 1973, Paulo Silveira fala que o imóvel ficava na Rua 3 de Maio (hoje, rua Dr. Cesário Motta). “Esse prédio primitivo já não mais existe, mas a entidade funcionou, satisfatoriamente, por 30 anos. Em 1890, ocorreu a atualização do estatuto a cargo dos professores Joaquim da Silveira Santos e Antonio Arnóbio.
PRIMEIRO MÉDICO
A Santa Casa começou com 10 leitos e os serviços de um enfermeiro prático, “visto ainda não haver médico na cidade”. Paulo Silveira Santos registra que com a inauguração da fábrica do industrial milanês Enrico Dell’Acqua (depois Brasital) veio da Itália o clínico e cirurgião Clemente de Tóffoli, o qual como médico da fábrica passou a prestar serviços, gentilmente, na Santa Casa.
Em 1909, a Santa Casa depois de passar por outros endereços, mudou-se definitivamente para a “Chácara Arnóbio”, do professor Antonio Arnóbio. O dr. Tóffoli tinha se transferido para Campinas e a Santa Casa contava com os médicos José Brenha Ribeiro e Raposo Pinto. Em 1913, chega o dr. Júlio Arantes de Freitas, recém-formado pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro (turma 1912) que também se destacaria na política como vereador e prefeito de São Roque.
Dr. Brenha Ribeiro também era ligado à política e foi deputado estadual. Porém, veio a falecer (1918) na grande epidemia da Gripe Espanhola. Dr. Júlio por um bom período foi o único médico da Santa Casa e diretor clínico. Em 1928, Sotero de Souza que não tinha herdeiros deixou para a Santa Casa “valiosa” doação, tanto que foi o homenageado com o nome do hospital e maternidade.
A reportagem é concluída com a informação que o ex-provedor e ex-prefeito Henrique Luiz Arnóbio (neto de Antonio Arnóbio) conseguiu com o professor Odair Pacheco Pedroso e assistentes do Curso de Administração Hospital da Faculdade de Higiene da USP um planejamento para uma nova Santa Casa com a participação do Escritório G. Colombo (São Paulo) e planta do arquiteto Reynaldo Pestana. Registra que novas instalações seriam inauguradas por ocasião do centenário.
Para marcar a data também foi inaugurado o retrato do fundador Comendador Inocêncio com a presença do neto Newton de Moraes Rosa, residente em Sorocaba.
Vander Luiz


