Com uma vida dedicada à família, ao trabalho e à fé, Roque de Arruda, aos 91 anos, guarda uma memória privilegiada. Nascido em 1º de novembro de 1933, ele recorda com clareza detalhes de sua infância, o fim da Segunda Guerra Mundial e sua trajetória de 45 anos na Tecelagem Elizabeth, que integra o grupo Vicunha e foi eleita “Empresa do Ano” pela Revista Exame em 1990. Devoto de Nossa Senhora Aparecida e leitor assíduo do jornal O Democrata, Roque compartilhou suas histórias com a coluna “Arquivo Vivo” em sua casa, na Rua Leão XIII, em São Roque, na tarde do último sábado. “Agora já temos o Leão XIV”, brincou.
“Nasci na Rua São Paulo, número 951, em frente à atual Prefeitura de São Roque. Naquele tempo, era a chácara do engenheiro Gentil de Oliveira, que depois se tornou a Tecelagem Irajá e, mais tarde, Peterco e Philips”, lembrou. Gentil de Oliveira, engenheiro e músico, foi prefeito de São Roque entre 1944 e 1945 e pai de Mário Luiz Campos de Oliveira, também engenheiro e prefeito em dois mandatos (1960-1963 e 1983-1988). Com sua esposa, Maria Luiza, Gentil teve outros três filhos: Gentil (conhecido como Gê), Paula e Diva. “Por termos praticamente a mesma idade, eu tinha mais amizade com José Henrique”, conta Roque.
Filho de João Augusto de Arruda (1895-1955) e Cecília de Paula Arruda (1901-2002), Roque preserva com orgulho a árvore genealógica elaborada por sua sobrinha, Soraia Trompini Dias. Foi casado com Olga Freitas Saab de Arruda (1929-1995), com quem teve três filhos: Ronaldo Roque (1960), Márcia Cristina (1962) e Lilian Cristina (1969).
Roque cursou o primário no Instituto Educativo São José, das irmãs vicentinas, onde teve como primeira professora a irmã Bernadete. Uma memória marcante de sua infância é o dia 8 de maio de 1945, quando, aos 12 anos, participou das celebrações pelo fim da Segunda Guerra Mundial. “Toda a cidade saiu às ruas, com desfile de alunos, operários e moradores em frente à antiga Prefeitura, na Rua XV de Novembro, junto à Praça da Matriz”, lembra.
TECELELAGEM ELIZABETH
Aos 14 anos, em 1947, Roque começou a trabalhar na Tecelagem Elizabeth, na Rua XV de Novembro (atual sede do Bradesco). Por 45 anos, dedicou-se à empresa, que cresceu sob o comando das famílias Steinbruch e Rabinovich e integra o Grupo Vicunha. Em 1946, Sam Rabinovich fundou a tecelagem em São Roque e, dois anos depois, a Fiação e Tecelagem Campo Belo, em São Paulo. Sam era irmão de Samuel Rabinovich, casado com Alegria Steinbruch Rabinovich. O casal faleceu em um acidente aéreo na Grécia, em 22 de dezembro de 1948, deixando as filhas Elaine e Clara Elizabeth.
Com a morte de Samuel, os irmãos de Alegria, Mendel e Eliezer Steinbruch, assumiram a gestão da tecelagem, que já levava o nome da mãe deles, Elizabeth. “Em São Roque, também era produzidos cabos e varetas de guarda-chuva, tudo em madeira, para a montagem dos guarda-chuvas Samira, outra empresa da família”, explica Roque. Ele recorda com orgulho ter trabalhado diretamente com Mendel e Eliezer. “Aos 16 anos, eu via Eliezer, com 22, liderar a produção. Fui até convidado para um casamento da família em uma sinagoga na Rua Caio Prado, em São Paulo.”
Com o tempo, a Tecelagem Elizabeth mudou-se para a Rua 22 de Abril, onde também funcionaram outras empresas, como Ferodo/Jurid, Carambella e, atualmente, Altenburg. Roque permaneceu na empresa até o encerramento de suas atividades em São Roque. “Fui escolhido funcionário do ano em 1993, com meu nome anunciado pelo próprio Mendel em uma festa com os diretores. É um orgulho que carrego até hoje”, diz.
DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA APARECIDA
Desde jovem, Roque participa das atividades da Igreja Matriz de São Roque, integrou a Congregação Mariana e canta até hoje o Hino Mariano. Guarda com carinho e respeito uma oração a Nossa Senhora Aparecida, datada de 8 de setembro de 1904, que ganhou do pai dele.
A data de 8 de setembro, que celebra a Natividade de Maria, é especial para Roque. Em 2024, com a ajuda do neto Renan, que escreveu mensagem para o Santuário de Aparecida destacando os 120 anos da coroação de Nossa Senhora. “Consegui conversar com o reitor, padre Carlos Eduardo Catalfo, que me convidou para retornar no Dia da Natividade. Em 8 de setembro, durante a missa, fui surpreendido com uma rosa oferecida pelo reitor. Foi uma emoção indizível”, relata. A entrevista completa com Roque de Arruda está disponível no YouTube, no canal Vander Luiz.
Vander Luiz