Hoje de manhã, junho, 28, Silvia De Ambrosis Pinheiro Machado me contou:
“Desde 2022 vem se espalhando por diversas cidades brasileiras o Riobaldia… eis que acaba de chegar à nossa querida São Roque. Trem literário que saiu da Estação Ferroviária de Cordisburgo, cidade mineira onde nasceu João Guimarães Rosa, atravessou o cerrado e, Mata Atlântica adentro, fez parada na Estação Maylasky. Linhas literárias do interior…do coração.”
A sutileza das palavras multiplica os sentidos muito ricos, latentes na notícia/ mensagem. Ontem se fez hoje, onde estou! Momento nítido em que o vídeo, no meu celular, é também o trem que me transporta até o festejo na Estação Maylasky de São Roque, tendo partido da cidade berço ou cidade do coração – cordis no latim – Cordisburgo, MG.
Riobaldia inspira-se no Bloomsday, instituído na Irlanda para homenagear Leopold Bloom, o protagonista de Ulisses, romance do irlandês James Joyce (1882-1941), obraprima renovadora e de afirmação universal, publicada em 1920. Bloom, em 16 de junho, 1904, perambula 19 horas por Dublin, nas páginas de Joyce. Zanza, desde a metade dos anos ’20, pela comemoração dessa data, atualmente estendida internacionalmente.
Centenária! João Guimarães Rosa, nasceu em 27 de junho, 1908, e foi-se embora em 1967. Seu romance-mundo Grande sertão: Veredas, em 1956, renovou a literatura brasileira e brilha na literatura universal. Riobaldia, no batismo feliz por Maria Cecília Marks, confraterniza roseanos brasileiros desde 2022. A história e o programa estão na internet; podem ser acessados a qualquer hora, a qualquer vez.
“O que é pra ser são palavras” – são o Rosa e sou eu, no aplauso a mais uma contribuição da educadora Silvia De Ambrosis Pinheiro Machado, nos projetos culturais integradores, democráticos, por ela e pelo educador João Jeannine desenvolvidos em Maylasky.
Representam a persistência consciente, orientada pela análise vigilante das proposituras de um primeiro projeto, somando 24 anos da origem à evolução, às feições atuais. O grupo “Amigos da Estação Maylasky”, em 2001, articulador das artesãs locais, desde 2015 reunidas na Oficina Fios e Linhas, ensejou, em 2018, o grupo Arvoreta: narradores de Mário de Andrade, dedicado à obra poética e à prosa do grande modernista (1893 a 1945).
Em verdade, abriu-se à sugestão da cidade. Mário, estudioso do nosso patrimônio histórico e artístico, na compreensão do valor da arquitetura do período colonial, adquiriu, restaurou e ofereceu ao Brasil o Sítio da Capela Santo Antônio, localizado em São Roque.
No compasso das descobertas, os Arvoretas, além de dialogar com a invenção das bordadeiras, suscitaram, na chave mariodeandradiana, a formação de mais um conjunto, votado a O Turista Aprendiz.
E, sagazes, estão emparelhando, em seu trabalho, Mário de Andrade e Guimarães Rosa. Leem, descobrem sentidos e entonações, unidos a dois escritores de alta coragem/voltagem renovadora. Tanto esforço de caráter público, tanto alento têm merecido parcerias institucionais que os sancionam devidamente, como o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo.
Então, Riobaldia em São Roque é leitura e cantoria, nosso corpo ritmando. Entoamos a canção Riobaldia, de Jean Garfunkel e Cecília Marks, regidos pelo músico e compositor Matheus Pezzotta:
“Hoje é o dia do Rosa
Riobaldiadorim
Dia e Noites do Sertão
Manuelzão e Miguilim.
Buritis do meu Cerrado
Diadorim e Riobaldo.
Na travessia selvagem
Desse mundo misturado
Carece de ter coragem
Pra viver aventurado.
Tudo muda o tempo todo
Ninguém nasce terminado.”
Telê Ancona Lopez – Colaboradora sênior e professora emérita do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo