Desde 2023, o Conselho Municipal de Educação (CME) dialoga com o Departamento de Educação e Cultura (DEC) de São Roque sobre os motivos pedagógicos que levaram o município a adotar o material didático (apostilado) do SESI (Serviço Social da Indústria). O questionamento surgiu após reclamações apontando que o material:
- Não segue o currículo elaborado pela Rede de Ensino de São Roque entre 2017 e 2019;
- Depende de conectividade e acesso à internet, que não estão disponíveis em muitas escolas públicas da cidade;
- É considerado desnecessário diante da oferta gratuita de livros pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) do governo federal.
O DEC afirmou que a aquisição do material foi iniciativa do prefeito, por constar em seu Plano de Governo. No entanto, o CME verificou o plano encaminhado ao Tribunal Eleitoral em 2020 e não encontrou referência à compra do material apostilado. O Departamento também destacou que as capacitações oferecidas pelo SESI a professores teriam como objetivo melhorar a qualidade do ensino.
Desempenho Educacional e IDEB
Com a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2023, em 2024, o CME analisou o impacto do material didático nos indicadores da cidade:
- Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º a 5º ano): São Roque obteve nota 5,7, abaixo do estado de São Paulo e de municípios da região. Comparação: Vargem Grande Paulista 6,6; Barueri e Santana de Parnaíba 6,4; Osasco 6,3; Itapevi e Cajamar 6,1; Cotia 6,0; Jandira 5,8; Carapicuíba 5,7.
- Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano): Nota de 4,9, também abaixo da média estadual de 5,4.
Aquisição do Material e Avaliação Técnica
O DEC explicou que a compra ocorreu via modalidade de inexigibilidade técnica, aplicada quando não há viabilidade de competição, seja pela exclusividade do fornecedor ou pela escassez de empresas capazes de atender a demanda. Até meados de 2025, não havia sido realizada avaliação formal sobre a qualidade e aceitação do material.
O CME elaborou um questionário com 28 perguntas para professores, corrigido pelo DEC, enviado via e-mail e WhatsApp entre 31 de julho e 8 de agosto de 2025. A Rede de Ensino de São Roque conta com aproximadamente 650 docentes, dos quais 92 responderam à pesquisa, representando cerca de 15% do total.
Resultados do Questionário
Aspectos pedagógicos negativos
- 37% dos professores afirmaram que o material do SESI não apresenta sequência/estrutura lógica; 51,1% indicaram que parcialmente.
- Quase 50% apontaram que o conteúdo não é complementado pelo ano seguinte, comprometendo a progressão do aprendizado.
- Cerca de 50% responderam que abordagens e atividades não condizem com o nível de ensino; 63% afirmaram que a linguagem não é adequada à faixa etária.
Aspectos positivos
- Conteúdos atuais e contextualizados, com dados válidos;
- Quase 70% destacaram atividades extraclasse, consideradas essenciais para o aprendizado.
Infraestrutura e condições de aplicação
- Cerca de 50% indicaram que suas unidades escolares não têm condições materiais adequadas (internet, laboratórios, computadores) para utilizar o material do SESI.
Apoio e metodologia docente
- 60% responderam que o material de apoio oferece sugestões de atividades apenas parcialmente; 27% afirmaram que não oferece suporte.
- Mais de 45% disseram que a metodologia do SESI não é compatível com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da unidade escolar.
- Sobre a relevância do material para tornar o ensino significativo, mais de 70% deram nota abaixo de 5 (escala 1-10).
- Quase 90% dos docentes indicaram que não desejam receber o material do SESI em 2026.
Conclusão do Conselho Municipal de Educação
O CME destacou que, embora o material apresente pontos positivos, como conectividade e atividades extraclasse, muitas escolas não possuem infraestrutura suficiente para aproveitá-lo. Diante disso, o Conselho sugeriu diálogo direto com professores antes de qualquer negociação para um novo contrato com o SESI em 2026.
O relatório completo está disponível na página do CME, no site da Prefeitura de São Roque.