Organizador da Entrada dos Carros de Lenha e festeiro em 1962
No dia 20 de junho de 1924, nasceu o são-roquense João Machado, que foi casado com Maria Auxiliadora Ribeiro Lopes e tiveram os filhos Mariinha Pontes, Maria do Carmo e “Pacelli” (falecido). As Festas de Agosto ocupam um espaço importante em suas memórias. “Antigamente era diferente, a festa era mais católica, tinha mais fé”, comenta, com a experiência de quem foi festeiro (em 1962) e um dos organizadores da Entrada dos Carros de Lenha (de 1965 a 2011). Era o responsável por fazer o contato direto com os carreiros, visitando agricultores em Vargem Grande, Ibiúna, Mairinque e Canguera graças às amizades criadas durante os 38 anos em que trabalhou como funcionário da Cooperativa Agrícola de Cotia, em Vargem Grande.

No início, ajudava os amigos Lívio Tagliassachi e Toninho Vernaglia. O Arquivo Vivo do jornal O Democrata registra quando ele ficou sozinho na missão de realizar dezenas de visitas. Ele mesmo guarda o recorte do jornal com a manchete: “Carros de Lenha: tradição que se renova”. “Nos últimos anos, três eram os responsáveis pelos contatos visando arrecadar a lenha: os saudosos Lívio Tagliassachi e Toninho Vernaglia e, ainda entre nós, o dinâmico João Machado continua, agora sozinho, com a pesada tarefa de convidar sitiantes e chacareiros, notadamente da região de Cotia, Vargem Grande e Caucaia, onde por muitos anos trabalhou.”

Antes da criação da Cooperativa Agrícola de Cotia (1927), uma viagem de carro de boi até o Bairro de Pinheiros (São Paulo) poderia levar três dias. A CAC passou a fretar caminhões, mas os bois continuaram sendo utilizados nas plantações. Por sinal, a colônia japonesa mandou tanta produção para o chamado Mercado Caipira que a região ficou conhecida como Largo da Batata. Recentemente, quase virou “Largo da Batata Ruffles”. No entanto, após uma polêmica, a PepsiCo desistiu do naming rights.

O progresso e as “modernices” chegaram. Por aqui, João Machado lamenta a diminuição no número de doadores de lenha. “No domingo, no almoço no Colégio São José, tinham duzentas pessoas e somente uns três carreiros.” Desde os anos 1990, os carros de boi que desfilam na abertura das Festas de Agosto vêm de Cambuí (Minas Gerais), a cerca de 200 quilômetros de distância.
Festeiro de São Roque em 1962
João Machado e a esposa foram os festeiros de São Roque em 1962. No mesmo ano, Marco Antonio de Oliveira e Iolanda Lima de Oliveira os festeiros do Divino Espírito Santo. Na prática, o trabalho era em conjunto, e todos são considerados festeiros de São Roque. “Fiquei sabendo da escolha no final da procissão de São Roque e, como manda a tradição, no outro dia já estava ajudando na desmontagem das barracas na Praça da Matriz”, recorda.

O cartaz publicado na primeira página do jornal O Democrata (04/08/1962) mostra que no dia 16 de agosto, além da Festa do Milagroso Padroeiro, comemorava-se o “Dia do Sanroquense”.
A programação incluiu a disputa de cabo de guerra (modalidade olímpica entre os jogos de 1900 e 1920) e as procissões dos Cavaleiros da Romaria de São Jorge (dia 8) e São Cristóvão (dia 17). Os 21 andores foram enfeitados por grupos e pessoas, com os nomes divulgados no cartaz oficial. Alguns exemplos: Nilton Scuoteguazza e senhora (São Roque), os festeiros Marco Antonio Oliveira e Iolanda (Divino) e Pia União (Nossa Senhora).

A sogra de João Machado, dona Amazília Ribeiro Lopes, além de enfeitar o andor de São Benedito, deu todo o apoio à filha Maria Auxiliadora. Amazília é considerada uma das pessoas com maior participação na vida religiosa da cidade, sendo festeira com o filho Geraldo Ribeiro Lopes, em 1945.
Na festa do padroeiro é tempo de resgatar histórias e personagens mesmo que de maneira superficial. Afinal, João Machado foi vereador em duas legislaturas (1960/63 e 1964/68); nos anos 1970, lutou pela reabertura da Igreja de São Benedito, que a paróquia havia transformado em depósito e ajudou por vários anos na manutenção da histórica construção. Representou São Roque no atletismo nos Jogos Abertos do Interior (Ribeirão Preto, Santos e Rio Claro; 1947/48/49 respectivamente) e na Corrida de Aleluia, além de outras atividades comunitárias.
Tem ainda a famosa casa em Mongaguá, comprada em sociedade com Vasco Barioni, Doutor Zozó (José Ribeiro Lopes) e Joel Ribeiro Lopes, em 1958. No litoral, além das “alcachofradas” preparadas pelos cozinheiros Zé do Nino e José Ghissardi Filho (Pica-Fumo), fez campanha para a reforma da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
O segredo da vitalidade aos 101 anos? Não fuma, não bebe e reza duas horas por dia. No dia 16 de agosto, marca presença na porta da Igreja de São Benedito para acompanhar a passagem da procissão de São Roque.
Vander Luiz