Cultivo de uva orgânica e o controle de pragas | O Democrata

Cresci em uma família ouvindo que precisava comer de tudo para não ficar doente. Dizia minha mamãe, dona Luzia, que o peixe uma vez por semana era para ficar inteligente, o feijão para ficar forte, as verduras e legumes era por conta das vitaminas e sais minerais, o fígado…, e assim por diante. Essa sabedoria popular de mamãe no início da segunda metade do século passado, numa época que não havia televisão e muito menos o Dr. Google, vinha sendo estudada em relação às plantas e animaisnos Estados Unidos e na Europa sem que ela soubesse. Afinal de contas, por que plantas e animais são atacadas por pragas ou ficam doentes?

Nos Estados Unidos, o professor Willian Albrechtestou o equilíbrio de nutrientes no solo que proporciona condições para que as plantas cresçamsadias. Praticamente na mesma época, o pesquisador Francis Chaboussou estudava na França os efeitos da deficiência de determinados nutrientes nas plantas e as doenças que causam em animais. Assim desenvolveu a Teoria da Trofobiose.Vivíamos o início da chamada Revolução Verde que é a base do que conhecemos hoje como Agronegócio.

Com a Revolução Verde os agricultores passaram a aplicar adubos químicos nos solos empobrecidos para recuperar a fertilidade. Com o uso dos adubos químicos são repostos ao solo cerca de 6 ou 8 nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S, B e Zn), se tanto. Segundo a professora Ana Primavesi, as plantas necessitam de 45 nutrientes para crescerem sadias e nutritivas. Ou seja, a conta não fecha. Quando não há todos os nutrientes que as plantas necessitam no solo, elas ficam predispostas ao ataque de pragas e doenças (Teoria da Trofobiose). Quando não há todos os nutrientes que as plantas necessitam no solo ou eles não estão equilibrados, as plantas até produzem o alimento que os animais irão comer e as pessoas também, mas esse alimento não nutri os animais e nem as pessoas, que acabam ficando doentes.

No Projeto Cultivo de Uva Orgânica conduzido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura Ecológica – UPD AE da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em São Roque, realizado em parceria com o SINDUSVINHO, o Instituto Federal – IFSP/SRQ e a Prefeitura, o controle de pragas e doenças vem sendo realizado acumulando os conhecimentos dos estudos de Willian Albrecht e Francis Chaboussou.

Pelo equilíbrio de bases proposto pelo professor Americano, o teor de cálcio obtido através da análise química do solo deve representar 55 a 65% da Capacidade de Troca Cátions – CTC. De forma similar, o teor de magnésio e potássio no solo deve representar 10 a 15% e 3 a 5% da CTC, respectivamente. Parece-me fundamental informar aqui que o teor de matéria orgânica do solo deve estar em 2,5 e 5,0% para que tenhamos as plantas adequadamente nutridas em sistemas orgânicos de produção.

A Teoria da Trofobiose nos ensina que as plantas deficientes de molibdênio ficam predisposta ao ataque por formigas cortadeiras, como as Saúvas e Quenquém. Essa mesma Teoria correlaciona a deficiência de enxofre no solo com a ocorrência de ácaros, conhecido por Erinose da videira.

Por sua vez, o desequilíbrio de cálcio no solo ou quando esse elemento encontra-se abaixo de 40 mmolc/dm3 há o favorecimento do aparecimento de cochonilhas na videira. Hoje sabemos também que a deficiência de cálcio no solo favorece o aparecimento da Podridão da uva madura. Por outro lado, o excesso de nutriente proveniente da adubação predispõem as plantas a pragas e doenças. Esse é o caso da adubação excessiva com nitrogênio. Nessa situação, as plantas acumulam aminoácidos que ficam disponíveis para o ataque de pulgões. Quando ocorre o acúmulo de açúcares nas plantas é a deixa para o aparecimento da doença conhecida como Míldio. O próprio Míldio pode surgir em vinhedos deficientes de cobre no solo. A doença conhecida como Botrytis pode ser controlada com a adubação com boro.

As plantas são atacadas por pragas e ficam doentes quando não estão nutridas adequadamente. Tanto a falta como o excesso de determinado nutriente pode predispor o vinhedo a pragas e doenças. Santa a sabedoria popular da dona Luzia, minha mamãe,que já ensinava que temos de comer de tudo um pouco, e não só o que gostamos.

Para maiores orientações de adubação e interpretação de resultados da análise química do solo procure a Divisão de Desenvolvimento Rural da Prefeitura, na Av. Três de Maio, 900, em São Roque. Em função da pandemia, procure agendar seu atendimento pelo telefone (11) 4712-4083.

Sebastião Wilson Tivelli – Eng. Agrônomo e Pesquisador Científico da Apta Regional

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