A gestão de Dona Antonieta | Cultura

O ginásio foi, principalmente ao longo da década de 1960, moldado pelo modo de agir da diretora Antonieta de Araújo Cunha, conhecida por “Dona” Antonieta. Sua maneira de lidar com a escola foi reconhecida e reforçada pelos segmentos de maior poder aquisitivo da cidade, pois a escola era considerada um modelo de qualidade, com alto nível de ensino, bons professores e uma rígida disciplina. O controle era exercido de todas as formas. A exigência do silêncio e as salas abertas para a escuta das aulas, assim como a cobrança da postura e pontualidade dos professores, mesmo quando essas situações ocasionavam conflitos e, até a falta de empatia com a comunidade interna da escola.

Antonieta desempenhou funções, junto aos alunos, que foram além do processo de ensino, pois cuidava da disciplina como condição de ensino e do modo de viver. O ordenamento se estendia além da limpeza, concentrando-se no controle da aparência do corpo, do corte de cabelos e do alinhamento dos uniformes. A concentração dos estudantes em fileiras no pátio da escola, antes do início das aulas, era o momento que a diretora observava os padrões de higiene, limpeza e organização dos estudantes. O comprimento das saias, a roupa engomada e os sapatos mocassim limpos, eram suas referências para os padrões de qualidade.

Era crucial para Antonieta produzir na escola um marco referencial de uma sociedade que tivesse a disciplina como referencial de uma organização social. A principal caracterização da sociedade brasileira, nas décadas de 1950 e 1960, foi o crescimento econômico nacional, advindo do capital estrangeiro que propiciou a ampliação e diversificação do parque industrial nacional, e que tinha como objetivo estabelecer uma política de segurança e garantir sua hegemonia frente à ameaça do “comunismo” assegurando desta maneira a ampliação do american way of life pelo mundo moderno.

Neste sentido, a escola desempenhou um papel importante, pois as famílias hegemônicas de classe média necessitavam da escola para a promoção da ideia do esforço ético e da disciplina como uma condição necessária para o êxito material na vida. Na realidade, a maioria da sociedade almejava um ensino secundário que desse acesso ao o ensino superior. Antonieta, no entanto, trazia com sua própria história de esforço pela sobrevivência, além da formação universitária baseada na formação das elites, com a visão que os alunos deveriam assumir as responsabilidades da sua própria existência fazendo com que a função da escola fosse propiciar uma reconstrução permanente da experiência e da aprendizagem dentro da sociedade.

A partir de 1968, a interferência da ditadura militar, com atos institucionais autoritários, transformou a educação secundária para priorizar a mentalidade empresarial tecnocrata e o ensino médio para o sentido profissionalizante. Somente em 23 de janeiro de 1976, houve a mudança da estrutura do ensino com a oficialização da escola como Escola Estadual de 1º e 2º Graus Horário Manley Lane. A constatação que se evidenciou foi que os ideais de Antonieta construídos e instituídos, na educação de hábitos higiênicos, na aprendizagem e assimilação forçada da disciplina, mudaram com as imposições ditatoriais, provocando uma adaptação, talvez desejada, ao regime autoritário. A diretora, que forçava comportamentos exemplares em sua gestão rígida, foi ajustada diante de uma política educacional imperativa, estruturada em concepções empresariais que postulavam somente a racionalidade da “linha de produção”, criando um ambiente desordenado que provocou a desagregação da escola, e um triste desfecho do curso normal.

Série Completa:

Artigo 1: O movimento de criação do Ginásio de São Roque

Artigo 2: Dona Antonieta e a transformação do Ginásio de São Roque

Artigo 4: O legado de Dona Antonieta

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