O legado de Dona Antonieta | Cultura
Ao fundo, o prédio da Escola Horácio Manley Lane – “Avenida João Pessoa, década de 1960”. Arquivo Histórico Digital de São Roque. Disponível em http://www.arquivosaoroque.com.br/acervo/items/show/470. Acesso em 19/02/2020.

A escola da Dona Antonieta, permaneceu no imaginário popular, exprimindo um certo saudosismo de momentos considerados como os anos dourados da educação que se consolidou, ao longo do tempo, na cidade de São Roque, como uma escola modelo de qualidade reconhecida socialmente pelos padrões sociais de uma educação rígida.

De fato, ela agiu naquela época, em conformidade com suas próprias convicções determinadas pela forma que percorreu sua vida pessoal e profissional, como também pela percepção das circunstâncias da comunidade, em relação a uma instituição de ensino. Predominava com suas ações de controle, os gritos na hora do recreio ou nos corredores da escola, que expunham os estudantes pela identificação de seus sobrenomes. Este modo de agir, que acentuava a disciplina, a exigência do uniforme de forma correta, além de uma rigorosa limpeza do ambiente escolar, representava a ligação e cumplicidade entre a escola e a sociedade local.

No entanto, as ações de Antonieta, enquanto personagem histórico, não refletia, a forma de racionalidade de uma era tipicamente capitalista. Neste caso, o que se deduz é que as ações de Antonieta eram apoiadas pela racionalidade por valores, com base em convicções pela obrigação, pelo dever ou por sua própria ética, e que resultou na imposição de costumes preparatórios a uma fase capitalista. A disciplina rígida deveria prevalecer no lugar da indisciplina de hábitos, a higiene superar a ausência de práticas cotidianas e domésticas, e a organização escolar a falta de um verdadeiro ordenamento político e jurídico. Em outras palavras, as ações racionais de valores morais de Antonieta representavam, na época, exigências de caráter formativo, mas não utilitaristas, pela simples razão que os estudantes e suas famílias, ainda não viviam no ambiente integral de uma forma capitalista de sociabilidade.

Neste sentido, o que se apresentava no contexto da população de São Roque, era apenas a atração dos elementos capitalistas que chegavam provocando uma mudança nos hábitos de uma comunidade seduzida por produtos estrangeiros. Principalmente desde a década de 1950, iniciava-se em São Roque, um novo estilo de vida, sobretudo norte-americano, difundido pelas notícias de rádio, televisão, revistas e pelo cinema. A demanda da educação surgia como possibilidade de inserção social através da escolarização num horizonte de expectativa de desenvolvimento capitalista. Isto é, o quadro de estratificação social das cidades do interior, ainda preservava as qualidades de épocas anteriores, com a oferta de trabalho limitada a pequenos serviços na cidade, e ao trabalho rural nas propriedades rurais. O trabalho no campo, no entanto, era entendido como extensão das atividades familiares, honroso e gratificante, porém visto como limitador para a ascensão social dos jovens. Ainda que houvesse o crescimento da urbanização com maior abertura do comércio e algumas empresas, as possibilidades de emprego, continuavam limitadas. Nesta perspectiva, aqueles que possuíam condições financeiras familiares, desejavam para seus filhos, a ascensão social e o prestígio de uma educação de nível superior. A universidade representava a nobreza da educação, que levaria uma pessoa ao sucesso, com concursos públicos, ou provavelmente para uma formatura em engenharia, medicina e advocacia. O saudosismo daqueles momentos estaria associado ao imaginário de um ideal de qualidade de vida, que foi vivido numa comunidade com características simples e limitada a uma época de desafios ao ingresso na forma capitalista. As transformações que ocorreram, nas décadas posteriores, provocaram cenários carregados de significados conservadores, mas não com as mesmas características e a importância do que foi o legado de Dona Antonieta.

Série completa:

Artigo 1: O movimento de criação do Ginásio de São Roque

Artigo 2: Dona Antonieta e a transformação do Ginásio de São Roque

Artigo 3: A gestão de Dona Antonieta

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