Refugiados dos conflitos de Cabo Delgado tentam recomeçar com ajuda de projeto

Titos Cornélio Moamba relata que sobreviveu por duas semanas no mato, escondido dos invasores

A origem dos conflitos de Cabo Delgado se deu em 2015, com confrontos violentos entre a polícia e líderes tradicionais islâmicos, os quais após esse embate passaram a treinar milícias. A formação estaria envolvida no ataque inicial que abriu o atual confronto, em Mocímboa da Praia, em 2017. 

Atualmente, esses ataques cresceram em força e brutalidade, dos quais insurgentes islâmicos têm promovido assassinatos, decapitações e sequestros de mulheres e crianças em vilarejos na província, rica em rubi e gás natural. A situação é responsável por mais de 670 mil deslocados no país, dos quais muitos têm migrado para províncias próximas, como a província de Nampula. 

Muitos refugiados vivem com medo, inseguros, sofrem de problemas psicológicos derivados da perda dos seus parentes e encontram-se sem acesso às necessidades básicas para sobreviver, como comida, água, abrigo e saúde. Devido a isso, associações locais têm feito um trabalho social, a fim de ajudar na reconstrução da vida desses refugiados. 

Esse é o caso da Associação Juvenil para o Desenvolvimento de Murrupula- AJUDEMU, organização sem fins lucrativos, criada em 2007 no Distrito de Murrupula, que promove políticas de combate à pobreza, buscando o desenvolvimento humano local por meio da advocacia, saúde, educação, assistência social e prestação de serviços às comunidades da província de Nampula. 

De acordo com Iassito Mohamede Kamuedo, diretor geral da AJUDEMU, com a chegada dos refugiados em Nampula, foi desenvolvido um projeto direcionado aos mesmos, chamado Recomeçando Vidas. A ação busca capacitá-los por meio de cursos gratuitos de Corte e Costura e Serralharia Civil, com o propósito de recolocá-los no mercado de trabalho. Após o término do ciclo de formação, essas pessoas recebem um kit de material para criarem um negócio e a partir desse negócio, possam ter recursos para comprar de alimentos, arrendar casas e etc.

“Os afetados perderam parentes, bens materiais, perderam praticamente as suas vidas, se assim podemos considerar. Nós da AJUDEMU, uma organização que trabalha em prol do desenvolvimentos das comunidades e desencorajamento das desigualdades sociais, sentimos a responsabilidade de ajudar e assim criamos esse projeto. Queremos oferecer um novo começo, sabemos que essas pessoas estão em uma nova realidade e para que sejam inseridas nesta nova realidade, elas precisam de uma base para começar. Esse é o propósito do projeto “Recomeçando Vidas”, salienta Iassito, diretor geral da AJUDEMU. 

Atualmente o projeto atende a 30 refugiados, com 15 pessoas em cada um dos cursos. Segundo Carmon Caetano Mucarrua, coordenador do projeto Recomeçando Vidas, a metodologia utilizada nos cursos do projeto é a de aproveitamento e valorização do conhecimento local, ou seja, os moradores da comunidade replicam seus conhecimentos aos refugiados. 

“Nós da AJUDEMU, junto ao secretário do bairro, identificamos alguns alfaiates e serralheiros que foram inseridos no projeto para que repliquem o seu conhecimento. Também tomamos cuidado com a abordagem utilizada com esses alunos, devido a situação e aos traumas que eles tiveram por conta do conflito. Buscamos incentivá-los a continuarem suas vidas e que eles não se deixem levar pela situação que passaram. Motivamos que eles agarrem com muita força de vontade o projeto, pois, só assim vão de alguma forma ajudar aos seus familiares e vencer com seus próprios esforços”, diz o coordenador do Recomeçando Vidas. 

Um dos jovens assistidos pelo projeto é Titos Cornélio Moamba, de 22 anos, refugiado vindo de Cabo Delgado, distrito de Muidumbe.

Titos relata que no ataque do dia 07 de abril de 2020, ele e os sobreviventes de sua família fugiram de suas casas para o mato, a fim de se esconderem dos extremistas. 

“Vivemos lá por duas semanas, esperando a situação se acalmar para voltarmos à nossa casa, mas o conflito permaneceu. Perdemos as nossas casas e todos os nossos bens, o que incluiu até os meus documentos. Também vi meus irmãos serem degolados e fugimos para o distrito de Mueda. Lá, conseguimos carona até a província de Nampula, onde havia alguns familiares que nos ajudaram”, diz o refugiado. 

Para o jovem, o curso oferecido pela AJUDEMU é realmente uma oportunidade de recomeçar a sua vida. Titos teve que abandonar os estudos devido a fuga de Campo Delgado e agora, pode novamente voltar a sonhar com um futuro. 

“Fazer o curso da AJUDEMU está me fazendo muito bem, irá ajudar a mim e a minha família, também poderei ajudar outras pessoas depois. Eu já sei fazer fogão, mesinhas e estou aprendendo muitas outras coisas aqui no curso de Serralharia Civil. Eu agradeço muito por essa oportunidade oferecida por eles e os seus parceiros”, agradece Titos. 

Carmon explica que ao fim de cada curso, eles oferecem kits de materiais de corte e costura e, também, materiais de serralharia civil, além de formar parcerias com outras associações e empresas para que os recém formados possam desenvolver seus trabalhos.

“Pretendemos comprar dois kits de corte e costura e dois de serralharia civil, assim os alunos formarão equipe e poderão dar continuidade às suas atividades, começando um negócio. Também iremos capacitá-los em gestão de negócios e pequenas empresas para que ao entrarem no mercado de trabalho, tenham conhecimento básico do que é uma empresa e como geri-la”, explica o diretor do projeto.

Infelizmente com a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus, a AJUDEMU perdeu parceiros, verbas vindas de editais e de instituições, precisando recorrer a vaquinhas on-line para captação de recursos para manter os projetos. 

“A AJUDEMU teve muitos problemas com a crise causada pela pandemia, mas como este é um projeto pontual, criado a partir de uma necessidade ocasional, a crise em si não causou um impacto negativo para o Recomeçando Vidas, apenas dificultou a captação. Porém, esperamos que haja pessoas que se identifiquem com o projeto e possam apoiá-lo, pois ele transformará vidas. Esses alunos terão a oportunidade de desenvolver um negócio e assim participar ativamente na comunidade, diminuindo as dificuldades as quais eles vivem atualmente”, ressalta Iassito. 
Os interessados podem conhecer mais sobre o projeto e contribuir com a arrecadação, acessando o site da AJUDEMU, pelo link: https://www.ajudemu.org/doar.

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