O artista plástico Darcy Penteado é um patrimônio cultural de São Roque por ter projetado o nome da cidade onde nasceu com seu trabalho como artista plástico, desenhista, cenógrafo, autor teatral, figurinista e o pioneirismo no movimento LGBT brasileiro inclusive com a publicação do jorna alternativo Lampião.
O Jornal O Democrata registra ao longo de sua história uma série reportagens e informações sobre o trabalho de Darcy Penteado que nasceu em 30 de abril de 1926 e faleceu em 3 de dezembro de 1987. Ao que tudo indica a última visita a terra natal foi alguns meses antes da morte (1º de maio de 1987) na festa que marcou a entrega do prédio histórico da Brasital adquirido na segunda administração Mário Luiz Campos de Oliveira (1983/1988).
O Democrata de 25 de setembro de 1971 destaca na primeira página que o pintor e desenhista são-roquense Darcy Penteado realizou uma exposição na Galeria de Arte Alberto Bonfiglioli (Rua Augusta, 2995 – São Paulo) entre 23 de setembro e 11 de outubro.
“A exposição terá quadros “post-pop”, nome dado pela critica italiana aos quadros de colagem, além de obras de “figuração narrativa”, série que o artista expôs em Paris e posteriormente em Roma.”
“Minhas experiências atuais em plásticos são tentativas de renovar o grafismo, de fazê-lo flutuar liberto, ou ainda de uma nova dinâmica. Tentativa de divertir o espectador fazendo-os participar dos meus quadros, vestindo meus nus, ou vestindo-se ele próprio com seus plásticos desenhados. O que estou fazendo não é mais pop, nem figuração narrativa, é algo novo talvez”, citou a reportagem.
Na mesma edição, O Democrata apresenta uma entrevista exclusiva com o artista são-roquense feita por Inah Costa. Primeiro veio a curiosidade de saber que é a autora da reportagem.
Inah foi funcionária da Coletoria Estadual e a identificação possível porque ela cita que o pai de Darcy foi seu chefe. O amigo Genival Nunes trabalhou na Coletoria e esclareceu que Ismael Victor de Campos também foi seu chefe, além de ter sido prefeito de São Roque (1930/1933).
Genival surpreendeu-se ao saber que a ex-colega de trabalho tinha feito essa reportagem. Lembrou que Inah costumava viajar para o exterior e mandava cartões postais para os colegas de trabalho. Abaixo trechos da entrevista com Darcy Penteado para que o leitor possar conhecer um pouco mais deste artista são-roquense de prestígio internacional.
Devo confessar que solicitar entrevista a quem está acostumado a concedê-la a repórteres nacionais e estrangeiros do mais alto gabarito não foi tarefa fácil, apesar de muito, muito agradável mesmo.
Afinal pensei comigo mesma, o moço não é nenhum “bicho-papão”, mesmo tendo seu maravilhoso talento transposto as fronteiras verde-amarelas. E não poderia deixar de ser assim, uma vez que ele é o filho do meu ex-chefe sr. Ismael [Victor de Campos] e daquela simpatia contagiante de mãe que é D. Chiquita.
Antes das perguntas vamos rapidamente saber o que o nosso entrevistado de hoje diz de si mesmo:
“Tem 45 anos de idade, mas acha que as pessoas caridosas dizem que aparenta menos. Nasceu em São Roque, é autodidata de nascença, gosta de sol e do verão, pratica esportes de inverno (quando existe neve é claro). Faz 15 minutos de ginástica diária, amor quando dá certo, gosta de nadar e adora esqui aquático, civilmente falando é solteiro, possui 5 sobrinhos, um cachorro e uma gata.
Já desenhou moda, publicidade, ilustrou livros, revistas e suplementos de arte, fez cenografia, trajes para teatro e TV; escreve contos às vezes, e na base da curiosidade já publicou artigos sobre história do traje (bacana, hein?) e que sua primeira exposição individual foi em 1949. Expos pela primeira vez no exterior na Suíça, mostra coletiva em New York e Buenos Aires, em 1955, participou da Bienal de Paris de 1961, Salão de Monte Carlo (1964), Portugal (1956).
Em 1962, passou a morar na Europa, quase sempre em Roma. E diz ainda em tom confidencial – que tem lutado consigo mesmo para não pensar na insociabilidade, preconceitos, intolerâncias e violências dos homens.
Sem se tornar um indiferente conseguiu com muita arte, e certa imprudência, o milagre de viver sempre de bom humor (feliz, hein?), neste mundo desunido e desordenado, e da pintura e da sua criatividade tem vivido com muita comodidade felizmente…” (Catálogo da exposição)
Desde que idade sentiu inspiração para a pintura?
Acho que pinto desde os 5 ou 6 anos de idade, mas isso não é vantagem alguma, porque o desenho ou pintura são formas naturais de expressão na criança. Normalmente toda criança desenha ou pinta, desde que lhe sejam dados os elementos para isso. E uma criança, se sente inspiração ao pintar, não a consciencializa, sendo então difícil mesmo, a um profissional como eu determinar quando terá ela começado, ou melhor, quando terá tomado consciência.
Quantos países conhece?
Sou um globe-trotter preguiçoso. Tenho saído por aí com a preocupação apenas de aproveitar a vida e sem “colecionar” países, como tanta gente que viaja faz. A pergunta então me pega desprevenido. Seria mais simples dizer o que não conheço. Como “colecionador” de países posso ser considerado um fracasso porque deixei de conhecer muitos para voltar de novo e por várias vezes, a aqueles, em que me prendem por razões de trabalho ou sentimental.
Dos países que percorreu qual o que mais apreciou e por quê?
Amo a Itália por razões turísticas evidentes e razões pessoais. Gosto de Paris e Londres também de New York tem certo encanto, desde que considerada numa escala de valores diversa da usada para a Europa. Com exceção da Itália que é quase toda bonita prefiro dar minha apreciação a cidade e não a países.
Qual a mulher mais elegante e mais bonita que conheceu em todos os países ou cidades que tem a ventura de conhecer?
Bonitas ou elegantes não são termos com que eu definiria as mulheres interessantes que tenho conhecido. Silvana Mangano [atriz italiana 1930/1989], por exemplo, mais que bonita é uma grande personalidade e dela eu não saberia dizer se é elegante porque nela a roupa não tem nenhuma importância.
Acredita na felicidade e na sua opinião em que consiste a mesma?
A felicidade não no sentido piegas e folhetinesco, mas em sentido maior que é claro consiste no equilíbrio da pessoa consigo mesma e na tentativa de equilíbrio com os demais. Isto é tão vago, dito dessa maneira, que para explicá-lo seria necessário escrever um ensaio extenso e detalhado. Resumindo aqui vai: Equilíbrio consigo mesmo significa ter consciência do seu valor (ou do seu desvalor), e impor aos outros a sua verdade à custo de qualquer sacrifício doa a quem doer. Uma vez imposta a verdade, ela será respeitada pelos que a merecem e renegada pelos que não a alcancem.
Darcy Penteando (1926/1987) entrevista exclusiva para o Jornal O Democrata de 25 de setembro de 1971. Foto reprodução. A colaboradora Inah Costa (funcionária da Coletoria Estadual) fez a entrevista com Darcy Penteado Na mesma edição O Democrata destacou em primeira página exposição de Darcy Penteado em São Paulo Inah Costa, que entrevistou Darcy Penteado, quando viajava mandava postais para os colegas de trabalho da Coletoria Estadual. Em 1970, esteve em Nova Iorque e lembrou dos colegas de trabalho Inah Costa, que entrevistou Darcy Penteado, quando viajava mandava postais para os colegas de trabalho da Coletoria Estadual. Em 1970, esteve na Suíça e lembrou dos colegas de trabalho
Vander Luiz