Desenreda, São Roque! | O Democrata

 

Quem pensa que as teias de aranhas que se expandem pela cidade são os emaranhados mais tenebrosos de São Roque está muito enganado.

Apesar de admirar a perfeição com que esses insetos fazem seu trabalho de confecção das teias, confesso não ter qualquer simpatia por aranhas, pois fui picada por uma, em 2013, o que me rendeu dias de dor e desconforto e um atendimento pelo hospital do Instituto Butantã, em São Paulo.

Assim, quando passo a pé pelo trecho dominado pelas aranhas, entre o final da Rua Marechal Deodoro da Fonseca e o início da Rua São Paulo, por cautela, desvio do toldo caprichosamente por elas confeccionado, já que, por algum acidente, uma delas pode cair em mim. Há quem diga que elas não picam e não são venenosas, mas, na dúvida, melhor é não arriscar.

Desviar da trama de fios tecida pelas aranhas que reinam sobre o muro da Brasital até que é fácil, em que pese não ser tão seguro, pois bastam uns passos em direção à via pública, ou o atravessar da rua para livrar-se delas.

Difícil, mesmo, é escapar das muitas teias que compõem o emaranhado político na cidade.

São Roque tem custado muito a se ver livre em definitivo das teias malévolas que enredaram a Santa Casa de Misericórdia em uma série de episódios lamentáveis, que até hoje desgastam a imagem da velha instituição e lançam-na no centro de polêmicas, até mesmo de cunho policial. Há teias desde o estacionamento até a maternidade!

As teias fazem-se presentes na situação do transporte público na cidade, entre as queixas justas dos usuários que pagam pelo serviço sem serem atendidos a contento e dos funcionários que não recebem em dia e as alegações da empresa prestadora, no sentido de carecer de mais recursos públicos para manter-se em operação.

Completamente envoltas por um misto de teias e poeira estavam, até poucos dias, as belas marias fumaças “Corina” e “Angelina”, no pátio da Estação Ferroviária de Mairinque. Sua recente remoção para São Roque sinaliza que a Prefeitura está mobilizada a desembaraçar os entraves que as têm impedido de estar em seu verdadeiro lugar – os trilhos – e a cumprir a função para a qual foram adquiridas e regiamente pagas – conduzir o trem turístico.

As intrincadas teias que restam sobre o projeto do Trem Turístico precisam, de uma vez por todas, ser removidas, para que São Roque possa alavancar mais seu potencial na área de turismo.

– E o que dizer das antigas teias que envolvem os recorrentes casos de dispensa de licitação nas contratações das empresas coletoras de lixo?

Há quem jure que teias existem na Câmara Municipal, onde mais uma vez veio à baila a possibilidade de mudança do horário das sessões para o meio da tarde, o que limita a frequência da população à Casa de Leis, já que aqueles que trabalham durante o dia não têm condições de comparecer ao plenário ou acompanhar os trabalhos legislativos pela Internet em tempo real.

Não menos perigosa é a teia da criminalidade em São Roque, onde o tráfico e o uso de entorpecentes a cada dia ganham mais adeptos, sendo estes cada vez mais jovens e de todas as classes sociais.

Teias brotam a cada dia pela cidade afora. Na última semana, por exemplo, tomou corpo assustadoramente uma teia que envolve a Saúde Pública Municipal, formada por de acusações de racismo e assédio moral que teriam sido dirigidos a uma funcionária da rede por sua superiora.

Hoje há teias na área central e há teias nos bairros.

Teias, contudo, não são privilégio do presente. Não se pode esquecer, também, daquelas que hoje não se veem, mas enredaram a cidade no passado e que, espera-se, ainda deverão ser trazidas à tona e desenredadas, por conta das investigações policiais e dos processos judiciais e administrativos envolvendo políticos que não foram reeleitos na última eleição municipal.

Não é tão simples se desvencilhar das velhas teias e impedir que outras sejam tecidas, pois, muitas vezes, elas envolvem diversos interesses e pessoas e são confeccionadas com fios fortes e dobrados, que parecem inquebráveis. Outras vezes, tiveram tão sutil início que custam a ser notadas e, quando isso acontece, já estão instaladas e firmadas e não será fácil desarticulá-las.

São Roque precisa desenredar-se. Em termos de teias, bastam à cidade aquelas produzidas pelas aranhas, que não são poucas!

 

Simone Judica é advogada, jornalista e colunista de O Democrata (simonejudica@gmail.com.br).

Esta coluna tem o patrocínio de Le Petit Parisien Café.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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