“Oh Cristo, oh Rei de Israel… Desça da cruz, para que o vejamos e creiamos” (Evangelho segundo Marcos 15:32)
Ao longo de sua vida, Jesus Cristo colecionou uma série de insultos e desafios. Todos eles, sem exceção, revelaram o intuito de seus opositores demonstrarem que ele era somente um impostor, não o salvador que a nação israelita esperava.
No dizer de quem o confrontava e provocava, se fosse mesmo o filho de Deus, Jesus deveria transformar pedras em pão e pular do ponto mais alto do maior edifício de Jerusalém – o templo – e ordenar que anjos o amparassem para não cair.
Também diziam que ele era comilão e beberrão, amigo de homens desonestos e prostituas e, quando expulsava demônios, fazia isso apenas por que era o diabo chefe!
Não faltaram, ainda, situações embaraçosas com que seus adversários tentaram deixá-lo sem resposta, como perguntas a respeito da obrigatoriedade de se pagar impostos a um governo corrupto e tirano e o que fazer com uma mulher surpreendida em adultério.
Ao prendê-lo, decididos a acabar com ele, esbofetearam Jesus, cuspiram em seu rosto, e surraram-no até que quase desfalecesse. Em seguida, veio o escárnio: despiram-no durante a audiência presidida pelo governador romano Pôncio Pilatos e cobriram-no com uma capa vermelha, cravaram uma coroa de espinhos em sua cabeça, fizeram-no percorrer longo caminho, diante da multidão, carregando a cruz onde seria executado e na qual pregaram uma tabuleta que dizia ser ele o rei dos judeus.
Enquanto agonizava, pendurado no alto da cruz e sedento, tentaram dar-lhe de beber vinho misturado com fel e, não contentes com todo o sofrimento imposto a Jesus, zombavam dele falando que dizia salvar aos outros, mas não era capaz de evitar a própria morte. Até um ladrão, crucificado a seu lado, sentiu-se no direito de injuriá-lo e cobrar que ele providenciasse uma saída milagrosa da cruz para si mesmo e os dois bandidos que o ladeavam.
Para terminar as afrontas que marcaram toda a vida pública de Jesus, questionaram-no por que Deus não vinha resgatá-lo – já que o Todo Poderoso era seu pai – e desafiaram-no a descer da cruz.
Como se sabe, Jesus ficou calado e não desceu. Quando seu corpo, humano, não resistiu mais à tormentosa agonia da crucificação, ele disse que entregava seu espírito a Deus e expirou.
No propósito em que Jesus estava envolvido não cabiam discussões e confrontos de poder com os seus algozes que, preocupados demais em se manter no governo terreno e em ter razão em disputas religiosas e filosóficas, estavam muito longe de compreender que sua missão na Terra era divina e, portanto, centrada no amor, na paz e no perdão.
Jesus estava muito mais interessado em fazer conhecida a vontade e os propósitos de Deus para a humanidade do que em desvendar charadas, responder a ataques pessoais e sair-se vencedor em provocações.
Descer da cruz era algo fora de cogitação para Jesus. Ele sabia que sua vinda ao mundo somente daria frutos se o seu sacrifício fosse completo, independentemente de quantos duvidassem ou zombassem dele.
Ao permanecer na cruz, Jesus dispensou quaisquer sacrifícios a Deus para purificação de pecados. Por isso se diz que ele é o cordeiro sacrificado para que as pessoas sejam perdoadas.
Por haver suportado todos os horrores da cruz sem abandoná-la, Jesus ressuscitou dos mortos.
Quem reconhece Jesus como o filho de Deus, aceita seu sacrifício e crê em sua ressurreição torna-se participante da salvação, que significa estar ao lado de Deus por toda a eternidade.
Crer nisso e defender a ideia de que Jesus Cristo é o filho de Deus e o único senhor e salvador da humanidade não é tão simples, pois exige exercitar a fé, que nem sempre encontra amparo no que a razão e a ciência explicam, e implica rejeitar velhos hábitos e crenças e mudar de comportamento para pautar a vida no mandamento de dificílimo cumprimento, que impõe amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Todos os dias, cristãos de todo o mundo são chamados de radicais e sofrem perseguições e zombarias. A lição de Cristo, ao permanecer na cruz e dela rumar para a ressurreição, dever servir de modelo e bálsamo para cada um que recebe Jesus como seu Senhor e salvador.
Porque Jesus não desceu na cruz, a Páscoa mais uma vez será celebrada e renovará a certeza e a esperança na ressurreição de todo aquele que crê em Cristo.
Feliz Páscoa!
Simone Judica é advogada, jornalista e colunista de O Democrata (simonejudica@gmail.com.br).
Esta coluna tem o patrocínio de Le Petit Parisien Café.