A escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, iniciada por decisões tarifárias do então presidente americano Donald Trump, pode gerar efeitos econômicos relevantes para o Brasil. De acordo com um estudo do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), vinculado ao Cedeplar/UFMG, o país tende a registrar um pequeno crescimento no Produto Interno Bruto (PIB), impulsionado principalmente pelo aumento das exportações de soja para o mercado chinês.

Segundo os pesquisadores Edson Paulo Domingues, João Pedro Revoredo e Aline Souza Magalhães, a disputa comercial deve provocar uma retração de 0,16% no PIB global — o que representa uma perda de US$ 128 bilhões — e uma redução de 2,81% no comércio internacional, estimada em US$ 592 bilhões. Apesar do impacto negativo global, o Brasil poderá se beneficiar parcialmente do realinhamento comercial entre as potências.
Com a China restringindo a compra de soja norte-americana, a demanda pelo produto brasileiro tende a crescer, resultando em um aumento de US$ 4,8 bilhões nas exportações do grão — valor suficiente para compensar as perdas previstas em setores como indústria, serviços e parte da agropecuária. O saldo final projetado para o PIB brasileiro seria positivo, com incremento de aproximadamente US$ 350 milhões.
No entanto, o estudo faz um alerta importante: o ganho concentrado no agronegócio ocorre em detrimento da indústria nacional, que deve registrar retração significativa. Esse processo pode acelerar a desindustrialização do país, comprometendo a geração de empregos qualificados e a capacidade de crescimento de longo prazo.
O risco de elevação nos preços de alimentos também entra no radar. Especialistas alertam que o aumento das exportações pode pressionar a inflação interna, sobretudo de produtos derivados da soja. Um dos autores do estudo, João Pedro Revoredo, minimiza esse efeito, argumentando que a maior demanda externa deve ser acompanhada de expansão da produção.
Com informações do BdF.