Ex-vereador Cabo Jean tem direitos políticos cassados pela Câmara de São Roque após fala considerada racista.
A Câmara Municipal de São Roque decidiu, nesta quinta-feira, 17 de julho, pela cassação dos direitos políticos do ex-vereador e ex-candidato a prefeito Rogério Jean da Silva, o Cabo Jean. A votação, marcada por ausências e clima tenso, teve como pano de fundo uma denúncia de racismo relacionada a uma fala proferida por Jean em plenário, ainda durante o seu último mandato. O termo “suas negas”, usado em um embate com o vereador Guilherme Nunes, foi o estopim do processo que culminou em sua condenação política.

A denúncia foi apresentada pelo vereador Paulo Juventude — que foi substituído na sessão por seu suplente, Marcão da Educação —, e também por dois cidadãos: Vivian Delfino Motta e Rodrigo Umbelino da Silva. Jean, que atualmente não ocupa cargo público e foi derrotado nas urnas nas eleições municipais, foi acusado de racismo pela fala dirigida a Guilherme Nunes em sessão plenária do ano passado.
Guilherme, embora tenha sido o alvo da fala, se ausentou da sessão após pedido do advogado de defesa Rafael Bonino. Ele já tinha afirmado anteriormente que repudia toda e qualquer conduta racista e que espera que a Câmara atue com rigor em situações do tipo. “Vereadores devem ser exemplo de respeito, diálogo e igualdade”, declarou. Para evitar qualquer alegação de vício no processo, preferiu se retirar da votação.
Além de Paulo Juventude e Guilherme, também não participaram da votação os vereadores Rafael Tanzi e William Albuquerque. Com dez votos a favor da cassação e apenas dois contrários — de Dani Castro e Marquinho Arruda —, o processo foi aprovado por maioria absoluta.
Durante a sessão, o vereador Diego Costa frisou que havia outras oportunidades para cassação de Jean no passado, mas que, neste caso, o ponto central era o racismo e o modo como a sociedade o encara. “É uma questão séria demais para ser empurrada à margem das discussões políticas”, afirmou.
Na defesa de Jean, o vereador Marquinho Arruda alegou que o ex-colega de Casa não teve intenção de ofender ou praticar racismo. “Jean sempre foi uma pessoa antirracista em sua trajetória pública”, disse. A defesa jurídica seguiu o mesmo caminho: o advogado Rafael Bonino argumentou que o crime de racismo exige dolo — ou seja, a intenção clara de discriminar — e que essa intenção não esteve presente na fala do ex-vereador. Jean, por sua vez, pediu desculpas públicas aos denunciantes e seu advogado alegou que a Comissão Processante poderia ter aplicado uma pena mais branda, ao invés da cassação.
Em sua fala final, Cabo Jean manteve o discurso de inocência: “Tenho a consciência limpa. Aprendi com meus erros. Mas não cometi racismo.” A frase deu o tom de um pronunciamento marcado por emoção e também por aplausos de apoiadores que estavam na plateia da Câmara. Ao final da votação, porém, o público presente entoou gritos de “vergonha”, numa demonstração clara de que a sociedade local segue dividida sobre o caso.
Apesar da perda dos direitos políticos, Jean ainda pode recorrer à Justiça para tentar reverter a decisão.
A sessão entra para a história da Câmara de São Roque como um marco na responsabilização de agentes públicos por condutas consideradas discriminatórias.