O que leva alguém a cuidar, amar e, voluntariamente, entregar um cão a outra pessoa? Não é egoísmo, mas empatia. É essa consciência que move os voluntários que socializam futuros cães-guias. “Sabemos que há pessoas que precisam dos cães mais que nós”, diz Thaisa Borim, farmacêutica de Sorocaba. Sua família já socializou quatro cães, uma jornada que começou em 2021 com Uvie, atualmente cão-guia do atleta de goalball João Vitor Silva. “A entrega não é fácil, mas aceitamos que eles têm uma missão maior”, relata.
O Brasil tem cerca de 7 milhões de pessoas com deficiência visual (IBGE/2022). A demanda por cães-guias é alta, e o Instituto Adimax, em Salto de Pirapora, já formou 88 cães desde 2018. A socialização, que dura 1 ano, é fundamental para o sucesso do treinamento. As famílias voluntárias ajudam os cães a se adaptarem a ambientes variados, como mercados e transportes públicos.
Até o momento 401 famílias participaram como voluntárias junto ao Programa Cão-Guia como socializadoras. Elas são selecionadas a partir da inscrição no site do Instituto Adimax (que possui inscrições abertas o ano inteiro), passando em seguida por uma entrevista. Durante o ano em que ficam responsáveis pelos cães, todas as despesas como ração, banhos, acompanhamento veterinário e técnico são fornecidos pelo Instituto. As famílias socializadoras são uma peça importante nessa engrenagem de transformação social, mas muitas vezes são esses voluntários que saem transformados após a experiência.
Patrícia Jung, enfermeira, viveu a transformação dessa experiência. Durante o tratamento de um câncer, ela encontrou no cão Thanos um apoio emocional. Após a última sessão de quimioterapia, Thanos chegou e trouxe novo ânimo à família. Hoje, ele está em treinamento e Patrícia já socializa outro cão. “Os médicos salvaram meu corpo, mas Thanos curou meu coração”, afirma.
Sobre o Instituto Adimax
Localizada em Salto de Pirapora, interior de São Paulo, a sede conta com uma estrutura completa. São 15 mil metros quadrados, com maternidade, canil, clínica veterinária, centro cirúrgico, área de soltura, lazer e treinamento, prédio administrativo e hotel para receber futuros usuários de cães-guias, e uma equipe multidisciplinar, distribuída nas áreas de saúde e bem-estar, equipe técnica, administrativo, relacionamento e operacionais, totalizando 26 colaboradores.
Antes de chegarem ao seu destino, os cães são acolhidos por famílias voluntárias onde ficam pelo período de um ano. O papel dos socializadores é expor os animais às mais diversas situações do cotidiano, para promover seu desenvolvimento e acostumá-los à rotina. Além, é claro, de dar a eles tempo e amor. Depois desse período, os animais voltam para o instituto e ficam cerca de cinco meses aprendendo a seguir comandos e desviar de obstáculos. Após formados, poderão ser doados para dar início a missão: transformar a vida de pessoas com deficiência visual.