A Câmara Municipal da Estância Turística de São Roque instituiu três novas medalhas de homenagem, que serão concedidas a personalidades que se destacarem em suas áreas de atuação na cidade. As honrarias foram instituídas pelos vereadores Diego Gouveia da Costa (PSB), Paulo Rogério Noggerini Júnior (REDE) e Newton Dias Bastos (PP).
A Medalha “Darcy Penteado” será entregue a personalidades que contribuírem para a promoção da cultura em todas as suas formas no município de São Roque. A cerimônia de entrega acontecerá em setembro, durante o mês da Virada Cultural, instituída pela Lei Municipal nº 5.341, de 01 de dezembro de 2021.
Já a Medalha “José Cabinda” será concedida a personalidades ou entidades que se destacarem na promoção da cultura negra, igualdade racial ou na luta contra o racismo em São Roque. A entrega acontecerá em uma Sessão Solene alusiva ao Dia da Consciência Negra.
Por fim, a Medalha “Profª Antonieta de Araújo Cunha Laurenciano” será conferida a professores atuantes em São Roque que se destacarem na área da educação. A cerimônia de entrega será realizada em uma Sessão Solene alusiva ao Dia do Professor, que é comemorado no dia 15 de outubro.
As honrarias poderão ser entregues em solenidade convocada para esse fim ou em Sessão Solene, a critério dos vereadores. A criação das medalhas tem como objetivo valorizar e reconhecer o trabalho de personalidades que se destacam em suas áreas de atuação e que contribuem para o desenvolvimento da cidade de São Roque.
Darcy Penteado
Darcy Penteado de Campos, nascido em 30 de abril de 1926, em São Roque – SP, “Darcy Penteado”, passou a infância em sua casa na Praça da Matriz e na chácara da família. Filho de Dona Chiquinha e sobrinho de dona Íria, professora de muitas projeções do Grupo Escolar Doutor Bernadino de Campos, onde Darcy estudou e deu início a sua carreira como solista, no coro da escola tendo Dona Eglantina como sua acompanhante no piano, destacando-se em suas apresentações beneficentes para a paróquia e Santa Casa.
Foi uma criança criativa, inventava ou modificava seus próprios brinquedos, adorava andar de bicicleta e, criou com seus dois irmãos, um teatro que combinava fantoches e marionetes, depois tornou-se uma espécie de teatro ambulante que circulava pelas escolas da cidade, apresentando inclusive no Cine Central. Viveu em São Roque até os 10 anos, posteriormente mudou-se para a capital vivendo com sua avó para os estudos.
Autodidata, deu início a sua carreia profissional por volta de 1948 como ilustrador no grupo “dos novíssimos”. A partir desta data passou a expor regularmente no Museu de Arte Moderna de São Paulo, participou de bienais no Brasil e exterior. Foi o mais jovem cenógrafo escolhido para o ballet do IV centenário de São Paulo. Conquistou diversos prêmios em artes plásticas, artes gráficas e no teatro, tais como: “Salão Paulista de Arte Moderna“, “Saci” e “Jabuti”; também foi premiado pelo cartaz da primeira Bienal de São Paulo (1951). Ilustrou livros e contos de importantes escritores brasileiros como Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst, Graciliano Ramos, entre outros. Foi um dos principais “portraitistas” brasileiros, destacando-se também internacionalmente com seus retratos, como o da famosa atriz que interpretou a “Bonequinha de Luxo” (Andrey Hephurn), na década de 60.
Em uma de suas voltas do exterior e com referência de um de seus ídolos, Kilmt, deu início a uma de suas obras mais conhecidas: a “Via Crucis”. O artista voltou a seu ateliê em São Roque e criou uma série de 10 telas retratando o drama de Cristo, com técnica de colagem utilizando fotos de fieis da paróquia local, objetos recolhidos das ruas de Roma, tecidos e recortes de jornais, com uma técnica denominada pelo próprio artista como “Post- Art”. A obra foi exposta em Roma, Paris e teve uma de suas últimas vernissages em São Paulo (2018) na galeria Recorte com realização da Divisão de Cultura.
Mestre José Cabinda
Mestre José Cabinda foi um sorocabano liberto protagonista da mais importante insurreição de escravizados de São Roque e região. De acordo com o professor de História na Estância Turística de São Roque, Julio Schneider, o plano da sedição foi deflagrado pela polícia em 18 de julho de 1854 quando o mestre e envolvidos foram presos em uma cerimônia da Cabula, religião de matriz africana, da qual era a autoridade máxima. “Na cosmologia centro-africana, a liderança política e religiosa é indissociável”, escreveu Schneider. Interrogado, José Cabinda revelou as intenções religiosas e também políticas das reuniões.
Suas atividades abrangiam os atuais municípios de Sorocaba, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Ibiúna, Itu, além de São Roque, centro principal do levante, marcado para ocorrer no dia 16 de agosto, feriado municipal, por ser Dia do Padroeiro. “O movimento contava com escravizados e libertos de toda a região, além de 300 espingardas escondidas estrategicamente no Morro do Saboó”, prosseguiu o professor. “Após o interrogatório, foi severamente açoitado em praça pública, durante dias. Mestre José Cabinda tornou-se um dos sujeitos históricos mais importantes no combate à escravização africana do estado de São Paulo”.
Professora Antonieta
Antonieta de Araújo Cunha, nasceu em 30 de dezembro de 1911, na cidade de São Simão – São Paulo, filha de Anselmo de Araújo Cunha e Theresa Marroni Cunha. Primogênita de nove filhos, ficou órfã do pai aos treze anos de idade. Movida pela necessidade de auxiliar no sustento familiar e associada à apreciação pessoal pelos estudos e demanda na área, conduziram-na à carreira no magistério no início de sua jornada. Na Década de 1920, ingressa no Ginásio de Ribeirão Preto, dando continuidade aos estudos e na carreira de magistério, lecionado para o ensino primário em escolas rurais do interior de São Paulo. Aprovada em concursos foi professora primária entre os anos de 1933 e 1938 em Ribeirão Preto. Em 1939 sua família mudou-se para São Paulo, seguindo o movimento de êxodo rural da época, para assim, em 1940, Antonieta atuou como professora na capital do estado.
O ano de 1943 marca a volta da professora primária ao interior em escolas de Altinópolis e Mogi Mirim, ambas do estado de São Paulo. Neste mesmo ano realizou o curso de Educador Sanitário oferecido pela Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e curso superior em pedagogia pela mesma instituição de ensino. Após concluir sua graduação, trabalhou na Escola Normal e no Ginásio Estadual de Caçapava, SP, de 1948 a 1954, nesta última chegou a atuar na área administrativa, como vice-diretora. Atuou consequentemente em três escolas: Ginásio Estadual Professor Macedo Soares, na cidade de São Paulo, Ginásio Estadual Pedro Brandão dos Reis, em José Bonifácio, SP, e Escola Normal e Ginásio Estadual de Itararé, do período de 1954 a 1958.
Em maio de 1958, após remoção através de concurso, a Diretora inicia sua trajetória no Ginásio de São Roque, local onde trabalharia por vinte e quatro anos, e portanto, aposentando-se compulsoriamente em 6 de janeiro de 1982 e marcou a história da educação são-roquense como mostra esta série de artigos: