O Clube Atlético Paulistano completou 74 anos de fundação nesta quinta-feira (28 de novembro). Esta é a data oficial do nascimento de um dos mais importantes clubes da região, que disputou várias temporadas do futebol profissional a partir de 1986, mas, a exemplo de outras agremiações, já entrava em campo antes desta data.
“Era um grupo que jogava futebol na Santa Quitéria (terreno onde hoje está a Carambeí ou Vila Irene). Era um time sem nome fixo: quando ganhava, o nome continuava; quando perdia, a gente trocava. Eu lembro que o último nome foi Cipó Futebol Clube. O time foi ganhando vida, incorporando pessoas. O meu tio Atílio Franceschi era o técnico, e boa parte dos jogadores trabalhava na Brasital”, contou Elílio Franceschi (29/05/1932 – 25/04/2017), filho do primeiro presidente Antonio Franceschi.
Passou a ser Paulistano e, sem uma diretoria constituída, sobrevivia com dificuldades. Eram apenas onze camisas, que eram utilizadas pelos dois quadros. Quando alguém era substituído — somente em caso de contusão — vestia a mesma camisa, que já vinha “batizada” de suor.
O primeiro ponto fixo foi no Bar do Bonini, de propriedade de Atílio Bonini, na Praça da Matriz. Logo na primeira reunião ficou decidido que seria criado um quadro associativo com o pagamento de uma taxa mensal, mas os jogadores teriam que comprar chuteiras, meias e calções. Além disso, o time não teria nenhuma responsabilidade em caso de contusão.
“Assim, criamos uma comissão da qual eu também fazia parte, ao lado de Nelson Ribeiro do Prado (Nico), Orestes Ribeiro do Prado, Antonio Franceschi, Atílio Franceschi, Remo Roque Sasso, Joaquim Moya e Christiano Emiliano Pena (Tatu), que opinou sobre o modelo do uniforme”, lembra Elílio.
Como boa parte do time era formada por operários da Brasital, o São Roque Atlético Clube (que mandava jogos no campo pertencente à tecelagem) se viu obrigado a ceder horários para o Paulistano. Assim, passou a treinar aos sábados e podia mandar um jogo por mês.
A conquista definitiva do campo da Vila Aguiar mais uma vez contou com a força dos operários da Brasital. Durante uma greve, em 1950, o presidente do Sindicato dos Tecelões, Joaquim Moya, negociou com os representantes da fábrica a cessão do terreno. Para isso, o time teria que ser oficializado e a diretoria deveria ser formada em sua maioria por funcionários da tecelagem.
Dessa forma, o operário Marcílio Montebello abriu as portas de sua casa, localizada no terreno do campo, para a reunião que oficializou o Clube Atlético Paulistano na noite de 28 de novembro de 1950.
O Arquivo Vivo do Jornal O Democrata resgata a primeira grande conquista do Paulistano. Em 1958, o Tricolor da Vila Aguiar levantou a taça do Campeonato Municipal. Um momento histórico no “Ano de Ouro do Futebol Brasileiro”, quando, em 29 de junho, o Brasil ganhou pela primeira vez a Copa do Mundo, na Suécia.
A competição retrata uma nova fase do futebol de São Roque, com o aumento da rivalidade entre Paulistano e Grêmio União Sanroquense. Até então, Atlético (São Roque Atlético Clube, fundado em 20 de junho de 1918) e Esporte Clube São Bento (10 de março de 1918) dividiam as atenções do torcedor. No entanto, no final dos anos 1950, o Grêmio — que nasceu sem o objetivo de praticar futebol — havia entrado em campo e contava com remanescentes do Atlético. Por sua vez, o São Bento perdia espaço.
O Torneio Início do Campeonato Municipal de 1958 foi vencido pelo Grêmio, em disputa no campo do Clube Atlético Sorocabana de Mairinque (CASM). O distrito de Mairinque pertencia a São Roque, e o plebiscito que confirmou a emancipação ocorreu em dezembro daquele ano. O primeiro prefeito, Arganauto Ortolani, assumiu em 1960. A competição de apresentação era disputada em um único dia, com partidas que tinham tempos de 10 a 20 minutos. Em caso de empate, ganhava o time com o maior número de escanteios ou a decisão era por pênaltis.
O Grêmio venceu na final o São Bento por 3 a 1. Antes, havia vencido o Estrela do Marmeleiro (1×0) e o próprio Paulistano (2×1). No primeiro jogo, o Paulistano ganhou do Sorocabana nos pênaltis (3×2), após empate sem gols. A outra equipe participante foi a Ferroviária de Mairinque, eliminada pelo São Bento (0x1). Os jogos classificatórios tiveram dois tempos de 15 minutos cada, e a final, dois tempos de 30 minutos.
O Campeonato Municipal de São Roque de 1958 foi organizado pela Liga Sanroquense de Futebol, presidida por Benedito Ferraz Góes, e, desta vez, o Paulistano não deixou o título escapar. Em uma grande atuação, “abateu o forte esquadrão do Estrela por 7 a 0”, tentos de Bide, Paulista I, Zito Mandi (2 cada) e Waldemar. O CAP jogou com Roque Paschoal, Dade e João; Décio, Rico e Sílvio; Zeca do Vuque (também chamado de Zeca Pintor), Bide, Paulista, Waldemar e Zito Mandi. Após 66 anos, apenas três jogadores estão vivos: Zeca Pintor, Bide e Paulista.
O Grêmio também não perdoou o São Bento, ganhando por 4 a 0. O rubro-celeste do técnico Nelson Calixto formou com Hélio Mudinho; Osmar, Jair e João (Mirim); Paulo Rocha e Carlini; Motorzinho, Caio Pontes (Botti), Incau, Feio e Franco (Caio). Gols de Motor, Incau, Osmar (pênalti) e Botti.
Disputado em dois turnos, o Paulistano garantiu o primeiro título ao ganhar do São Bento por 1 a 0, em 21 de dezembro. “Assim, a Vila Aguiar é a campeã, os associados do C.A.P. são campeões, seus simpatizantes são campeões, sua diretoria é campeã, e o Clube Atlético Paulistano, pela primeira vez, sagrou-se campeão são-roquense.”
Vander Luiz