*Marina Helou e Paulo Juventude
A crescente ameaça representada pelas mudanças no clima tem impulsionado medidas ao redor do mundo para tornar as cidades mais resilientes e preparadas. Há muitos planos, mas não os recursos necessários para sua implementação. O orçamento para investir nessa transformação permanece um desafio transnacional, fazendo com que os acordos climáticos tenham avançado pouco ao longo dos anos.
Especialistas em sustentabilidade e urbanismo trazem soluções para adaptar nossas cidades a eventos extremos: jardins de chuva, telhados verdes e a ampliação de áreas verdes e permeáveis nas zonas urbanas. Parques lineares e fluviais, projetos de renaturalização de rios e restauração de encostas também contribuem para a drenagem das águas das chuvas, a recarga dos aquíferos, a regulação da temperatura e redução do calor urbano, e a redução de erosão e prevenção de deslizamentos.
Existe uma série de ideias criativas e inovadoras que podemos colocar em prática para tornar nossas cidades mais preparadas para as mudanças climáticas, mas todas dependem de investimento público e pressão popular. No âmbito nacional, o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) foi criado em 2009 para financiar projetos, estudos e empreendimentos que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e apoiem o enfrentamento aos efeitos da mudança do clima. Ações de mitigação, adaptação e modelos de financiamento também estão previstos na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), mas ainda caminham lentamente em âmbito subnacional.
Apenas em 2024 o governo do estado de São Paulo criou o Finaclima, um fundo para receber recursos privados voltados a ações de mitigação de emissões de gases de efeito estufa e de adaptação aos impactos das mudanças climáticas. Temos apresentado emendas ao orçamento estadual para garantir que projetos ligados à emergência climática tenham investimento, mas não chegaram a ser acolhidas pela Assembleia Legislativa.
Na capital São Paulo, a maior metrópole do país, os desafios climáticos têm sido significativos, com o aumento das temperaturas e eventos extremos de precipitação. Mesmo assim, a cidade não conseguiu avançar em ações efetivas para proteger sua população. São Roque, por sua vez, estuda a vinculação de 1% do orçamento municipal a projetos ligados às mudanças climáticas e a criação de um fundo municipal no tema. É importante colocar a sustentabilidade na pauta das cidades e da população, para que não seja esquecida com as mudanças de governo.
Nossos mandatos continuarão investindo nessa pauta tão importante. É preciso trazer o assunto das mudanças climáticas para dentro das cidades, onde a vida das pessoas acontece e onde as mudanças do clima são mais diretamente sentidas. Cidades mais resilientes são mais seguras, saudáveis e têm mais capacidade de proteger as pessoas. E essa é uma pauta de todos nós.