A Festa de São Benedito terminou na segunda-feira (6 de janeiro) com a procissão, realizada às 17h, percorrendo ruas centrais de São Roque, seguida de missa e do tradicional bolo de São Benedito. O tríduo em louvor a São Benedito é uma celebração centenária, com uma rica história, que sobrevive graças ao trabalho de pessoas abnegadas, que deixam de lado compromissos pessoais e profissionais para manter viva essa tradição.
Dona Wilma Baroni Boccato, 92 anos, é o maior símbolo dessa dedicação. Há mais de 40 anos, junto a outros moradores das ruas Marechal Deodoro e XV de Novembro [a igreja está localizada justamente entre essas duas vias, na atual Praça Heitor Rino Boccato, anteriormente conhecida como Largo São Benedito], liderou esforços para reverter a situação de abandono da igreja. O local estava com as portas fechadas à comunidade, sem nenhum respeito ao passado, e havia sido transformado em depósito de imagens de santos, andores e barracas da Festa de São Roque.
A Igreja de São Benedito é a única igreja central que mantém a construção original, erguida por escravos a partir de 1855 (ano indicado na fachada) e inaugurada dez anos depois. Em contraste, a atual Igreja Matriz é a terceira construção em louvor a São Roque. Esta foi idealizada em 1929 pelo padre Cícero Revoredo, que conseguiu apoio para demolir a chamada “igreja velha”, construída entre 1773 e 1872. A primeira capela de São Roque foi erguida pelo fundador Pedro Vaz de Barros, no início do povoado, em meados do século XVII.
O Arquivo Vivo destaca detalhes da Festa de São Benedito realizada em 6 de janeiro, data escolhida porque, no Dia de Reis, os escravos eram liberados pelos senhores para realizar a congada.
Há cem anos, o jornal O Democrata publicou (edição de 04/01/1925): “Coadjuvado pelos festeiros Joaquim Antonio Maciel e Carmelina Maria de Barros, o vigário Padre Antonio Pepe está trabalhando ativamente para os festejos em louvor a São Benedito”. Após a procissão e a reza, foi realizado um grande leilão de prendas, cujo resultado seria destinado às despesas das festas.
A programação incluía uma recomendação especial para os “anjos e virgens” [meninos e meninas]: “A estas recomendamos o vestido branco, pois não serão admitidas as descalças ou vestidas de cor.”
No entanto, a procissão foi adiada. Em uma edição posterior, o jornal registrou: “Devido a circunstâncias superiores e independentes da vontade dos dirigentes da festa, não pôde, no dia 6 [quarta-feira], ser executado o programa publicado no Democrata… Não houve responsabilidade voluntária; até foi feito para dar brilho à solenidade e comodidade ao povo inteiro, boa parte do qual não compareceria por ser um dia de semana… Esse mesmo programa será executado hoje (11 de janeiro, domingo).”
O Democrata, que inicialmente circulava aos domingos, noticiou que a programação foi cumprida integralmente. Para 1926, foram nomeados festeiros Áurea de Moraes e Ondina de Andrade, Benedito Gabriel Vieira e Joaquim Nastri. Por sorteio, Arthur Pinto do Amaral foi designado alferes da bandeira, e Antonio da Silva, capitão do mastro.
Em 1959, o jornal registrou que a Festa de São Benedito ocorreu de 3 a 12 de abril, mês do falecimento do santo (4 de abril de 1589). A grande atração foi a “inauguração do sino que pertenceu à Igreja Matriz, agora incorporado ao patrimônio de São Benedito”. A doação foi possível porque, no dia 25 de janeiro de 1959, ocorreu a cerimônia de sagração e instalação dos três novos sinos da Igreja Matriz, batizados como São Roque, Espírito Santo e Nossa Senhora Aparecida.
Vander Luiz