O arquivo do Jornal O Democrata é a máquina do tempo que liga histórias | O Democrata

Consultar o centenário arquivo do Jornal O Democrata é viajar pelo tempo. Tem semana que busco um assunto específico, uma data comemorativa. Outra vezes é somente pelo prazer de entrar em uma máquina do tempo com os principais acontecimentos de São Roque e região deste 1917. É o caso desta semana, onde apenas busquei saber o que ocorria há 75 anos.

O Jornal O Democrata de 9 de outubro de 1948 trouxe um artigo de Vasco Barioni que demonstrava otimismo com a construção de um prédio próprio para o Ginásio Estadual. Criado em 17 de janeiro de 1947, o decreto lei 16.741 estabelecia condições para o funcionamento. A necessidade de um terreno de 10 mil metros quadrados e aparelhamento didático. No entanto, iniciou as atividades no ano seguinte dividindo salas com o Grupo Escolar Bernardino de Campos (Rua Marechal Deodoro da Fonseca, atual Fatec).

O governador Adhemar de Barros recebeu uma comissão tendo à frente o mecânico José Fernandes da Silva considerado o grande idealizador da campanha pelo ginásio e que tinha uma carta na manga. Levou para a audiência o empresário Horácio Manley Lane que assumiu o compromisso de doar um terreno na Avenida João Pessoa, onde hoje está o estabelecimento de ensino.

“Vossa excelência vai perdoar a insistência, mas lá em São Roque circulam boatos mais inquietantes. Dizem uns que o Ginásio não continuará sem a construção de um prédio e, finalmente, as mães, os pais e amigos e todos que desejam o progresso e grandeza da cidade sentem-se receosos de perder o que tanto sacrifício e trabalhou custou”, disse José Fernandes.
Por sua vez, Adhemar de Barros garantiu que poderiam voltar tranquilos para São Roque. “Digam lá que em janeiro começarei a construção do externato e quando este estiver pronto iniciaremos a construção do prédio do internato [escola onde os alunos tem alojamento].”

A obra não começou de imediato, mas felizmente os alunos não ficaram sem aulas. A mudança de endereço ocorreu somente em 1958 e graças ao empenho da diretora Antonieta de Araújo Cunha que assumiu o cargo em 2 de maio de 1958 e permaneceu até 6 de janeiro de 1982.

Nesse espaço de tempo, o Ginásio Estadual recebeu, em 1953, o nome de Epaminondas de Oliveira por decreto do governador Lucas Nogueira Garcez. O governo Jânio Quadros mudou o nome do patrono para Horácio Manley Lane, homenagem ao avô do doador do terreno e um dos fundadores do Colégio Mackenzie (São Paulo).

Na mesma edição de 1948, a coluna social de O Democrata informa que José Fernandes da Silva e a esposa Amélia Anézia Sorni comemoraram 25 anos de casamento no dia 8 de outubro. O diretor do ginásio e alunos compareceram à missa de troca de alianças em forma de reconhecimento.

Como um assunto puxa o outro, José Fernandes também recebeu a visita do irmão Vital Fernandes da Silva (1903/1996). Nascido em Descalvado (SP), Vital era um dos mais famosos radialistas do Brasil conhecido por Nhô Totico. Em 1948, trabalhava na Rádio América mas passou por outras emissoras como Cultura e Record. Criou a Escolinha da Dona Olinda que certamente inspirou a Escolinha do Professor Raimundo com Chico Anysio, lançada por Haroldo Barbosa em 1952 na Rádio Mayrink Veiga (RJ). Em 1957, estreou na TV RIo e passou pela Excelsior, Tupi e Globo.

Mas com um detalhe, enquanto Chico Anysio (Raimundo Nonato) contava com vários comediantes no elenco, Nhô Totico fazia ao vivo as vozes da professora, dos alunos e demais personagens.

VICTOR FERNANDES DA SILVA

Filho de José Fernandes, o professor de Educação Física Vitor Fernandes da Silva (1930/2017) fez parte da primeira turma que concluiu todo o ciclo no Ginásio Estadual com a formatura em fevereiro de 1952. Sempre se empenhou para divulgar a iniciativa do pai e gostava de lembrar da carreira do tio famoso e das constantes visitas a São Roque.

Certo dia conversando na Jovem Pan com o roteirista Magalhães Jr., que escreve para A Praça é Nossa (SBT) e redator do Fausto Silva no Perdidos na Noite (Bandeirantes), comentei sobre a ligação de Nhô Totico com São Roque. Muito generoso, algumas dias depois pediu para que levasse ao Vitor um disco de Nhô Totico e uma cópia em CD.

Em 2014, quando o Ginásio Estadual completou 67 anos, a Delegacia de Ensino de São Roque organizou uma homenagem na Avenida Tiradentes. Foi quando entreguei a gravação histórica que registra o talento do radialista que não gostava de ser chamado de humorista. “Porque não concebo o humorismo sem cultura. Eu não tenho cultura, sou um moço de sorte. Eu nunca preparei nada, as inspirações vinham na hora”, revelou em entrevista ao Vox Populi da TV Cultura.

Vander Luiz

Jornal O Democrata São Roque

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