As escolas de samba Corações Unidos (São João Novo), Acadêmicos do São Roque Clube e Juventude Unida do Cambará foram as campeãs do Carnaval de Rua de São Roque nos anos 1980. A azul e branco do distrito de São João Novo conquistou quatro títulos seguidos (1983-1986) e, com o tricampeonato (1983-1985), garantiu a posse definitiva do Troféu Prefeito Quintino de Lima, criado em 1980.
Apesar de ter iniciado suas atividades na década de 1960, primeiro como bloco e depois como escola de samba, a agremiação aparece em diversos desfiles nos arquivos do jornal O Democrata identificada como Esporte Clube Sete de Setembro ou até mesmo como Bloco Taxaquara — nome do distrito antes da oficialização como São João Novo.
O São Roque Clube, entre idas e vindas, iniciou uma sequência de três vitórias consecutivas a partir de 1987. No entanto, a estreante Mocidade Independente da Vila Aguiar impediu o tetracampeonato com a vitória em 1990. Por sua vez, a Juventude Unida do Cambará (Juca), que também não participou de algumas edições, garantiu o bicampeonato (1981-1982). Nos anos 1970, já havia conquistado um bicampeonato (1976-1977). Em 1975, desfilou, mas não houve disputa.
No Arquivo Vivo, o espaço de evolução é curto e não posso parar na avenida. Mas aqui estão alguns registros da década em que o Carnaval de São Roque ganhou uma passarela do samba na Avenida Tiradentes e a Banda Psicodélica seguiu encantando com sua irreverência, inspirando outros blocos que tiveram vida curta.
O Carnaval de São Roque era organizado pelo Contur (Conselho de Turismo da Prefeitura de São Roque). No início dos anos 1980, destacou-se o trabalho de Henrique de Gaspri, referência durante décadas na apresentação de eventos ao lado de Roque Boschetti.
Em 1980, criou-se a expectativa para a participação de cinco escolas, inclusive com a possível vinda da Princesa Isabel de Mairinque. Foi anunciada a criação da Acadêmicos do Morro (Jardim Ester), mas apenas São Roque Clube (campeã), Guaçú e Cambará desfilaram. “É preferível ter um carnaval fraco do que não tê-lo”, disse Gaspri.
Ainda assim, a Banda Psicodélica marcou presença, e surgiu o Bloco Carambellino, das lojas Carambella. O empresário Vinicio Cesar Pensa, sempre apoiador de eventos em São Roque e região, estava tão empolgado que assinou contrato com a Rede Globo para patrocinar a transmissão do show de Frank Sinatra no Maracanã (26 de janeiro de 1981) para divulgar o lençol instantâneo Vapt-Vupt, da Carambella. No entanto, um pedido de última hora fez com que ele trocasse o show internacional pelo Carnaval da Globo de 1981. Foram gravados dois comerciais com o ator Laerte Morrone (1932-2005), então no ar na novela Marron Glacé, interpretando o personagem Valdomiro.
Por aqui, o incentivo às escolas de samba e blocos veio com ajuda financeira da Prefeitura, que enviou à Câmara um projeto de lei aprovado por unanimidade. O presidente da Câmara, Adauto da Rosa Faria, encaminhou a votação em regime de urgência. Em 1981, as novidades foram a estreia da Rosa Azul de Mailasqui e o retorno da Corações Unidos. A soma das notas era feita logo após a apresentação, e Zito Garcia subiu ao palco para erguer mais um troféu do Cambará.
Em 1982, destacou-se a promoção da Rádio Universal, com patrocínio da Carambella e apoio do jornal O Democrata. A rádio entrou oficialmente no ar no ano anterior (25 de janeiro), marcando o retorno de uma emissora local após a saída da Rádio Cacique, inaugurada em 1951 e transferida em 1958. O Carnaval de São Roque voltou a ter Rei Momo, Rainha do Carnaval e o Bloco das “Coelhinhas da Universal”. Ico (Odair Aparecido de Moraes, 1949-2020) foi o Rei Momo e gostou tanto da experiência que manteve o reinado em outros carnavais.
Na passarela, embalado pelo samba-enredo de Iberê do Morro, o Cambará garantiu o bicampeonato cantando a libertação dos escravos, acompanhado pela bateria de Túlio Preto (Antonio de Souza). Novamente, Zito Garcia ergueu o troféu. Mas não podemos esquecer o empenho de Sílvio do Bar, um dos fundadores da escola de samba e batalhador incansável pelo Carnaval de São Roque.
Nos anos seguintes, iniciou-se o reinado da Corações Unidos (1983-1986). São João Novo que tinha se revoltado com o terceiro lugar em 1982, ficando atrás do São Roque Clube. Em 1983, Joaquim Carlassara comandou a comissão organizadora, que decidiu espalhar jurados pelo trajeto (Praça Heitor Boccato, Rua 15 de Novembro, Praça da Matriz, Avenida Tiradentes e Rua Pedro Vaz). Até então, apenas a apresentação na Praça da Matriz era avaliada. A apuração passou a ocorrer na Quarta-Feira de Cinzas, e a premiação, no sábado, na sede da escola campeã. O vereador José Antonio Sanches Dias entregou o troféu ao também vereador Ademar Marreiro em São João Novo. O então vice-prefeito Zito Garcia transferiu o troféu transitório para o mestre Chico Martins.
Em 1984, o vice-campeão Cambará prestou homenagem a Adoniran Barbosa (1912-1982) e trouxe como destaque Matilde de Luttis, companheira do compositor por mais de 40 anos. A escola alegou que a campeã São João Novo havia reapresentado o mesmo samba do ano anterior, mas o protesto não prosperou.
A Corações Unidos perdeu seu reinado apenas em 1987, quando o desfile passou a ocorrer exclusivamente na Avenida Tiradentes. A iniciativa foi novamente de Joaquim Carlassara, e São Roque ganhou uma passarela do samba com serviço de som, eliminando o longo trajeto pelas ruas centrais. O São Roque Clube conquistou o título ao apresentar O Carnaval de Todos os Tempos, com letra e música de Antonio Bonduki, homenageando João Eletricista (Bloco Zé Pereira em São Roque), Joaquina Espanhola, Cartucho, Afrânio Pessoa Delgado (folião que faleceu no desfile de 1960), Chumbinho e Dona Chiquita, mãe de Darcy Penteado. O artista plástico participou de um dos bailes do São Roque Clube e ficou satisfeito com a homenagem.
O São Roque Clube encerrou a década com os títulos de 1988 e 1989. Em 1988, por iniciativa de Zé do Nino, a passarela do samba foi decorada com painéis que reproduziam o logotipo do Carnaval de São Paulo de 1985, criado por Darcy Penteado, falecido no ano anterior, em 3 de dezembro.
Vander Luiz
