Senhor Procurador da República Anderson Silva, | O Democrata

“Faço questão de me apresentar.

Sou sua colega de profissão, feminista, casada e não aceito sua proposta de discussão sobre débito conjugal – quem me segue no Instagram, sabe o motivo jurídico. Alguns caracteres dão conta de refutá-lo. A questão já foi muito debatida pela jurisprudência antiga – como e de seu conhecimento.

Portanto, minha réplica aqui é fundada no senso comum do Direito e no bom senso.

Cresci em família comum – a não ser pela ascendência teuto-nipônica, que me traz importante questão racial. E passamos pelos mesmos conflitos familiares também comuns com relação à menina e, mais tarde, mulher que pensa por si mesma.

E não se engane, meu pai foi o responsável por isso: ele me ensinou a pensar por meus próprios neurônios e por isto me responsabilizar. Fui sua Filha-Maravilha.

Tomei à risca suas orientações e faço do meu jeito o caminho da vida, que não tem repetição.

Não sei o porquê, mas entendi muito cedo que não há segunda chance para encontrar liberdade, amor, prazer, conhecimento.

E só isto já angustia demais. Já nos coloca no devido lugar.

Não temos tempo para errar e, o pior, julgar moralmente quem quer que seja – isto não nos cabe, muito menos ao senhor, servidor público.

Julgamento moral é fundamentado em crenças pessoais, íntimas, impartilháveis – muitas vezes até intraduzíveis. O senhor é cristão e mas não consegue dizer o motivo exato. Da mesma maneira que eu, filha de Yemanjá, não o consigo.

Minha moral religiosa me faz percorrer caminhos que não posso exigir do senhor justamente porque não tenho argumentos partilháveis, éticos, jurídicos para fazê-lo. Nem o senhor terá condições racionais, partilháveis, éticas, jurídicas de me obrigar a frequentar a sua igreja aos domingos.

Eu me vestirei de branco às sextas-feiras e o senhor frequentará sua igreja aos domingos e, aos sábados, conviveremos bem no mesmo shopping porque a ética exigirá boa educação, respeito a todas religiões e empatia.

Se o versículo de Corintios, explica-lhe sobre o casamento e lhe serve de parâmetro para sua vida conjugal, para a escolha de sua esposa; para mim, não serve. Para mim, diz muito mais sobre momento histórico.

Recorrerei ao obvio, entre advogados que se respeitam: não misturemos convicções religiosas com textos políticos, fruto trabalho legislativo, e que fundamentam algo muito maior do que a moral pessoal de cada um de nos: a paz social.

Porque sabemos, acompanhando a história, o quanto a moral religiosa de uns provoca dor, sofrimento e silenciamento em tantos.

O feminismo existe e resiste por isto tudo.”

Julie Kohlmann é Doutoranda em Filosofia do Direito, Mestre em Direito Civil, Especialista em Direito Penal e Associada ao IBDFAM – @juliekohlmannadvogada

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