Livro de contos retrata estórias vivenciadas nas periferias de cidades brasileiras

Um ano atrás, em maio de 2023, o músico Jaime Lira e o professor Rogério de Souza se aventuraram por novas searas. Escreveram o primeiro livro de contos da dupla. Lançado pela Editora Patuá (São Paulo), a obra “Árvore dos mutilados” reúne um compilado de 13 contos e duas canções sobre a vida cotidiana nas periferias de grandes cidades brasileiras, com relevo para vivências e experiências na polis de Itapevi, região Metropolitana de São Paulo.

Os contos são forjados sobre diversos temas abordados na atualidade: entre os meios de comunicação e plenários políticos que constituem o cerne das urgentes discussões relacionadas à vida de populações periféricas, no amplo da diversidade que se encontra no ecossistema naturalizado para grupos minorizados.

As violências urbanas, doméstica, contra as comunidades LGBTQIA+, além do feminicídio. Tensões raciais e a dinâmica com as forças de segurança organizadas em torno de modelos históricos neo-fascistas como pilares do racismo estrutural. Tópicos como negritude, colorismo e amplitude da cultura afro-brasileira multifacetada em diversos aspectos da vida social. E a invisibilidade das pessoas indígenas que vivem em precariedade socioeconômica e cultural enquanto disputam de forma desigual um espaço para respirar a vida na cidade em busca de refúgio e paz.

Essas são as sementes que germinaram “Árvore dos mutilados”. Os temas abertos e observados no prisma de situações específicas e comuns da vida nos conjuntos habitacionais, favelas, morros, guetos e ruas da capital paulista. O livro busca revelar a linguagem desses grupos aprisionados do lado de fora do léxico acadêmico, valorizando uma estética primordial da comunicação verbal com o estilo variado e regional da oralidade.

Os contos são escritos no estilo de conversas de escada, esquinas e fofocas de porta de bar. Ora em forma de línguas babilônicas como sílabas do espírito santo manifestado. Ora como gírias e dialetos urbanos que sobrevoam o tempo e subjugam a gramática com termos, adjetivos e substantivos oriundos das profundezas das memórias africanas. A obra é um ensejo, um desejo de estar e ser na periferia e para a periferia.