O Brasil recebeu pela primeira vez a visita de um papa entre os dias 30 de junho e 12 de julho de 1980. João Paulo II esteve Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza. Milhões de pessoas acompanharam as missas celebradas pelo pontífice, além de suas visitas e deslocamentos com o papamóvel.
O rádio e a televisão registraram índices de audiência recordes durante uma cobertura jamais vista no país. Foi um trabalho de fôlego, realizado por jornalistas e técnicos, para que tudo pudesse ser transmitido ao vivo via Embratel – a empresa brasileira de telecomunicações criada em 1965 com a missão de integrar o país por meio de comunicações de longa distância.
Cada brasileiro que acompanhou a visita guarda um momento especial. Nós, são-roquenses, fomos além. Afinal, estivemos representados na missa campal celebrada pelo papa no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 2 de julho. Diante de um público estimado em 160 mil pessoas, o ponto alto foi a ordenação de 74 padres. Entre eles, o são-roquense Elizeu Antonio de Camargo, filho do vinhateiro João Camargo (Vinhos Canguera) e de Arary Góes de Camargo (Dona Lali), irmão de Vera, Adélia e Édson Canguera, e neto de Senhorinha Godinho e Brasil Góes.
O jornal O Democrata publicou várias reportagens sobre a ordenação do padre Elizeu. Na primeira delas, intitulada “Papa ordenará são-roquense”, o jornal relatou ter recebido o convite para a cerimônia, com o seguinte teor: “Eu, diácono Elizeu A. Camargo, serei ordenado presbítero pela imposição das mãos do papa João Paulo II. Para esta celebração de fé, convido toda a família.”
O Democrata trouxe detalhes da cerimônia, destacando a presença de uma comitiva de São Roque que viajou mais de 400 quilômetros em um ônibus fretado. Édson Canguera, que tinha 15 anos na época, lembra da viagem e das emoções vividas no Maracanã: “Somente os meus pais tiveram acesso ao gramado. Fiquei na arquibancada com o padre Renato Litério e outros convidados. A famosa geral do estádio ficou livre para a passagem do papamóvel”, recorda.
De volta a São Roque, padre Elizeu celebrou sua primeira missa no dia 12 de julho, na Capela de Santa Cruz, em Canguera, onde residiam a maioria dos familiares e amigos. No dia 16 de julho, presidiu a missa de encerramento da Novena de São Roque, na Igreja Matriz.
Passou por várias comunidades e assumiu a Paróquia de Ibiúna, onde idealizou a Procissão dos Lavradores, dentro da Festa de São Benedito. Uma iniciativa de sucesso que, neste ano, reuniu mais de 600 tratores. Atuou também nas paróquias de Barueri e Cotia, despedindo-se em 9 de outubro, quando seguiu para Roma, onde permaneceria por quatro anos para realizar o doutorado em Liturgia.
MORTE PRECOCE
Lamentavelmente, padre Elizeu contraiu uma infecção pulmonar e faleceu com apenas 38 anos, em 3 de junho de 1991. O velório ocorreu em São Roque, na Capela do Colégio São José. O bispo Dom Francisco celebrou a missa de corpo presente, com a participação de 40 sacerdotes. “Uma lenta e longa doença debilitou a sua saúde. No sofrimento, celebrou a sua Eucaristia sabendo dar tudo ao Senhor”, escreveu frei Patrício Sciadini.
O Arquivo Vivo agradece aos irmãos Édson e Adélia pelo envio das fotos, inclusive da ordenação diaconal — primeiro passo rumo ao sacerdócio — ocorrida em 24 de abril de 1980, em Canguera, com a presença de Dom Paulo Evaristo Arns.
Vander Luiz