Já imaginou a Festa de São Roque no dia 16 de novembro? Em 1924, a Revolta Paulista obrigou a mudança da programação festiva ou profana como se costumava falar naquele tempo. No entanto, a parte religiosa ocorreu normalmente em agosto, inclusive com as procissões do Divino Espírito Santo e São Roque. Com o fim dos conflitos em São Paulo, a Festa de São Roque aconteceu em novembro com procissões nos dias 15 e 16 de novembro.

O Jornal O Democrata registrou esse momento histórico destacando o adiamento da festa e os problemas causados pelo movimento. Os trens da Sorocabana deixaram de circular e demorou para normalizar todos os horários. Com isso houve atraso, por exemplo, na entrega das correspondências. Na política local, em junho o prefeito Attilio Caproni pediu licença de dois meses “por retirar-se para fora do muncípio”. A Câmara Municipal aprovou o pedido e assumiu o vice-prefeito Antonino Dias Bastos (Nino).

Revolução em 1924? Não foi em 1932? A dúvida surge especialmente por um motivo, a Revolta de 1924 é conhecida como a Revolução Esquecida. Em 5 de julho de 1924, a capital paulista amanheceu tomada por unidades do Exército e da Força Pública com objetivo de derrubar o presidente Arthur Bernardes. Os combates prosseguiram por 23 dias até que os revoltosos foram derrotados. São Paulo viveu dias terríveis e são apontadas 720 mortes e que somente na Santa Casa foram internados mais de 2 mil feridos. Os bairros de Perdizes, Brás, Mooca e a região da Praça da Sé sofreram bombardeios de aviões e canhões do governo federal.
A Revolta Paulista de 1924 foi organizada por jovens oficiais do Exército que em 5 de julho de 1922 promoveram no Rio de Janeiro a Revolta dos 18 também conhecida como Revolta do Forte de Copacabana. Eles faziam parte do Tenentismo tanto que escolheram a mesma data e após a derrota em São Paulo organizaram-se em torno do tenente Luís Carlos Prestes formando a Coluna Prestes que percorreu 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil.

O Jornal O Democrata publicou: “Apesar dos pesares, da revolta, da caristia e de tudo o mais, o nosso excelso padroeiro não deixou de ver o seu dia condignamente festejado pelo seu povo. E isso se deve, em grande parte, ao zelo inescendível do vigário da paroquia, padre Antonio Pepe que foi incansável. A procissão foi das mais concorridas que temos visto causando mesmo admiração esse fato, pois a concorrência era toda são-roquense, pela falta de forasteiros… Esperamos, porém, que ainda este ano tenhamos a festa solene, com todo o brilhantismo.”
A promessa foi cumprida. Assim, o Jornal O Democrata de 2 de novembro de 1924 estampava em primeira página o programa da Festa de São Roque com um aviso. “A transferência foi devido aos luctuosos [tristes] acontecimentos de julho último”. No dia 7 de novembro, teve início a novena. A festa do padroeiro era organizada em conjunto com a Festa do Divino (15 de agosto) tanto que eram duas entradas de carros de lenha. Mantendo a tradição, o dinheiro arrecado com a venda da lenha do dia 13 novembro foi em benefício da Festa do Divino. No desfile do dia seguinte, para a festa do glorioso São Roque. Os festeiros também eram específicos: Professor Norberto de Barros (Divino); Julieta da Silva Bastos (esposa de Antonino Dias Bastos e mãe do Zé do Nino) e Padre Antonio Pepe (São Roque).

Os festeiros publicaram no Jornal O Democrata a seguinte orientação aos participantes das procissões “para maior brilho das festas”. “Os encarregados pedem o comparecimento de todas as associações religiosas da cidade e do maior número de Anjos e Virgens, pedindo que estas últimas se apresentam calçadas e com traje claro, pois não serão admitidas nas alas, meninas descalças ou trajadas à vontade. Também nas alas não serão admitidas senhoras com chales ou crianças no colo, as quais poderão acompanhar o préstito [procissão] atrás do pálio [vestimenta da Igreja Católica] sem alterar com a sua presença nas filas a devoção e a boa ordem indispensáveis neste atos tão solene da nossa religião. Muito esperam os senhores festeiros no comparecimento e nos auxílios do povo em geral, assimo como dos hóspedes forçados, que aqui passaram os negros dias da última revolução.”
Vander Luiz