O Democrata registra o fim da Revolução de 1932 e sugestão para o ouro arrecadado para o bem de São Paulo – O Democrata

Há 90 anos, em 2 de outubro de 1932, o Jornal O Democrata registrava o final do conflito armado da Revolução Constitucionalista quando foi deposto o governo paulista chefiado por Pedro de Toledo. O movimento iniciado em 9 de julho de 1932 tinha como objetivo derrubar o governo provisório do presidente Getúlio Vagas decorrente do Golpe de 1930 e escrever uma nova constituição.

A exemplo da imprensa paulistana, O Democrata deu grande espaço ao movimento ao longo das semanas com reportagens que ocupavam toda a primeira página como destacamos em coluna anterior.
O entusiasmo pela vitória era tanto que a derrota no campo de batalha não foi aceita com facilidade como demonstra a manchete “Ou uma paz honrosa para São Paulo ou a continuação da luta” e na sequência “Armistício entre forças armadas e a situação do movimento revolucionário”.

“A população paulista foi surpreendida no fim de semana com a notícia de propositura de um armistício entre as forças do exército constitucionalista e as forças ditatoriais. Não há como negar que os primeiros momentos foram de confusões e mal-entendidos ocorrendo mesmo sérios distúrbios na capital dos quais resultaram cair sem vida muitas pessoas.”

Felizmente, passou a hora de confusão, a calma foi aos poucos se restabelecendo e os acontecimentos ficaram reduzidos às suas verdadeiras proporções: entre as forças militares como preliminar de qualquer entendimento firmou-se o armistício, isto é, mera suspensão de hostilidades.”

A reportagem destaca também o desencontro de informações. “Até ontem nenhuma base para a negociação de paz havia sido entabulada e, desfazendo-se intrigas do Rio, divulgadas pela Agência Havas, o Q.G. [Quartel General] de São Paulo informava ao público.

“A verdade é que ainda não foi objeto de exame nenhuma proposta de paz; é precisa e unicamente para semelhante exame, que foi entabulado entre os chefes militares uma combinação para suspensão de hostilidades. Está reinando um equívoco, uma confusão, entre suspensão e cessação…”

“É preciso que o povo paulista confie na ação das autoridades militares estaduais. Um mesmo pensamento anima a uma e outras. Ou uma paz honrosa para São Paulo ou a continuação da luta…urge que a heroica e laboriosa população de S. Paulo se abstenha de quaisquer manifestações coletivas, reuniões ou grupos que são terminantemente proibidas. O Governo do Estado e o Supremo Comando das Forças tem bem nítida a noção da sua dignidade e deveres. Firmes e resolutos eles se conservarão nos seus postos. TUDO POR S. PAULO! TUDO PELO BRASIL! São Paulo, 30 de setembro de 1932.”

O Democrata também trouxe cópia do telegrama transmitido pelo cabo submarino ao presidente Getúlio Vargas.

“Com o fito de não causar à Nação mais sacrifícios de vidas nem mais danos materiais, o comando das Forças Constitucionalistas propõe imediata suspensão das hostilidades em todas as frentes, afim de serem assentadas as medidas para a cessação da luta armada”. Assina o General Klinger
Na sequência, telegrama do governador Pedro de Toledo também assinado pelos secretários de estado, chefe de Polícia e o prefeito de São Paulo, Godofredo Teixeira da Silva Teles, em que pedem que a população de São Paulo confie nas autoridades civis e militares e comprometem-se “a continuar em seus postos até que seja assinado o armistício, sejam feitas e encerradas as negociações para o restabelecimento da paz”. São Paulo 29, de setembro de 1932

OURO PARA SÃO PAULO
Durante a Revolução de 32 a campanha “Ouro Para o Bem São Paulo” movimentou milhares de pessoas, o Jornal O Democrata publicava semanalmente o nome de doadores.

Mesmo na edição da rendição de São Paulo uma lista foi publicada onde destacamos os ex-prefeitos Antonino Dias Bastos (1924/25) que ofertou 1 aliança de ouro, 5 moedas antiquíssimas de prata (espanholas e portuguesas) e Bernardino de Lucca (1946/47) que colaborou com um par de alianças de ouro do casal e uma abotoadura de ouro (1/4 de libra de esterlina).

O filho de Bernardino Lucca, Rodolpho de Lucca, que no último dia 3 de setembro completou 95 anos, também foi um dos paulistinhas que contribuiu com a Revolução de 1932. Ele tinha apenas 5 anos e doou uma moeda de prata antiga.

Mas qual foi o destino do ouro doado pelo povo paulista? O Jornal O Democrata, de 9 de outubro de 1932, falou em primeira página sobre o tema no artigo “O Ouro da Vitória”, de Araújo Netto, onde cobra-se um destino para o esforço do povo paulista.

“Terminada a luta armada pelo movimento constitucionalista, o ouro da vitória só poderia ter um destino condigno: voltar para o povo de onde veio. E outra maneira mais expressiva, por certo, não haveria para a solução desde caso sublime, do que dar o ouro da vitória à casa do povo que são as instituições de caridade… O ouro do povo continua, pois, a ser o ouro da vitória porque a ideia que ele amparou, não morre com o fracasso das armas e o Brasil com São Paulo hão de ser grandes dentro do regime da lei”.

Para que os recursos arrecados não fossem para as mãos do Governo Federal, os revolucionários paulistas doaram para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo que construiu um prédio que retrata a bandeira paulista no Largo da Misericórdia. A escolha foi uma retribuição pelos serviços prestados pelo hospital no atendimento aos combatentes. O projeto que representa a bandeira tremulando venceu é de autoria do escritório Severo & Vilares Cia Ltda – Escritório Técnico Ramos de Azevedo e foi o vencedor de um concurso de 1935.

Vander Luiz

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