As eleições de 2 de outubro reafirmaram que São Roque tem eleitores progressistas, e muitos desses votaram no Partido dos Trabalhadores, o PT.
Contradizendo o espectro que circunda a Mesorregião Macro Metropolitana Paulista, de que a Terra do Vinho seria uma cidade necessariamente conservadora e, por conseguinte, avessa às propostas que almejam mudanças estruturais da sociedade brasileira, especialmente aquelas que priorizem os grupos historicamente marginalizados, a municipalidade elegeu, nos últimas dez anos, dois prefeitos que não fazem parte do panteão de famílias tradicionais; e renovou a última legislatura com uma mulher e jovens vereadores, inclusive o edil mais novo do Estado de São Paulo. Tratando-se de São Roque, típica cidade forjada por raízes bandeirantes e imigrantes do século XIX, são avanços tímidos, porém “revolucionários”.
Neste primeiro turno, diferente das últimas eleições, candidatos do chamada centro-esquerda figuraram entre os mais votados em São Roque, com destaque para Eduardo Suplicy do PT com 1.136 votos, o 3º mais votado no município para Deputado Estadual; Guilherme Boulos do PSOL com 1.328 e Carlos Zarattini do PT com 941, 6º e 8º mais votados para Deputado Federal. Quando se soma a votação dos postulantes a um cargo na Câmara Federal ou na Assembleia Legislativa do campo político progressista, nota-se expressiva votação, como a de Iara Bernardi do PT, Marina Silva da REDE, Tábata Amaral do PSB, Sâmia Bomfim do PSOL, Donato do PT, Paula da Bancada Feminista do PSOL e Manira Helou da REDE.
A votação alcançada por Lula no primeiro turno: 17.626, compreendendo 39,05% dos votos válidos em São Roque; corrobora essa tendência. Nunca o Partido dos Trabalhadores conquistou, na etapa inicial da disputa, número tão expressivo. Na eleição de 2010, Dilma Rousseff chegou a 31,71% dos votos no primeiro turno. Em 2014, atingiu 20,28%; e em 2018 Fernando Haddad registrou apenas 10,37% dos votos válidos, vítima da onda conservadora que varreu quase todo país. A percentagem de 39,05% só fica atrás da votação de Lula no segundo turno de 2006, momento em que o petista apresentava alto índice de popularidade.
Pode-se associar esse fenômeno a diferentes causas, entre as quais: instalação de instituições escolares diversas na cidade e que se caracterizam por uma autonomia pedagógica e administrativa, como a Etec, Fatec e Instituto Federal; crescimento populacional com a chegada de residentes com trajetória diversa dos moradores tradicionais da Terra do Vinho; ascensão de uma geração que dialoga com pautas multiculturais, com relevo para a questão étnico-racial, de gênero e ambiental; aumento das desigualdade sociais, precarizando ainda mais a vida das pessoas que residem nos bairros afastados da região central; retorno de filhos da classe média são-roquense que estudaram nas principais universidades brasileiras, etc.
Ao mesmo tempo que os números sinalizam ares de mudança na política são-roquense, velhas e novas raposas políticas esforçam-se para não enxergar essa transformação. Permanecem olhando para o mesmo lado e martelam na tecla do conservadorismo, agora eivado por um reacionarismo que se aproxima do fascismo. Parecem não se importar com esse “detalhe”, desejando tempos passados que nunca existiram. Em 30 de outubro, eleitores e eleitoras de São Roque terão mais uma oportunidade de reafirmar essa tendência progressista e, por conseguinte, o Estado Democrático de Direito.
Rogério de Souza, Doutor em Sociologia e Professor no IFSP