Mimimi de 5ª série e a vida adulta – O Democrata

Nada mais infantilóide e irritante do que a resposta, por adultos, com “ah, isso aí é mimimi”.

Além de ser o ápice da deselegância, da falta de educação – esconde a desconsideração e a arrogância daqueles que ignoram os princípios básicos da vida comunitária, do que é espírito republicano, comportamento ético.

Eu me explico, minhas amigas: recebi, em um grupo de conhecidos, esta resposta. Mais uma vez, o famigerado grupo de Whatsapp dando espaço e voz à grosseria, desinformação e falta de educação.

Na minha juventude fui professora de crianças e, na minha frente, este tipo de resposta sempre foi motivo de um bate-papo longo, muito incômodo, entre mim, os responsáveis e todas as crianças de minha sala.

Dizia, à época, que isto não era resposta a pessoa alguma, muito menos àquelas com quem convivemos porque demonstra profunda falta de consideração pelos sentimentos dos outros, de quem se sentiu atingido – e isto não é irrelevante.

Ninguém tem o direito de magoar, desconsiderar, fazer pouco do que o outro sente.

E o pior, fazer troça.

Na minha sala, não – eu dizia à época.

O que pensar de homem adulto que se dispõe a usar deste tipo de expediente>

Adulto não tem direito a errar como criança, não tem direito à má-educação, nem a enganos grosseiros.

Adulto goza de um tipo de liberdade que implica necessariamente na responsabilização, mesmo por pura ignorância – assim diz a Lei.

Adulto não tem direito a não saber o básico.

E também foi isso que o Ministro Alexandre de Moraes afirmou em seu discurso, já histórico, no dia 16 de agosto.

“A liberdade de expressão não se confunde com a liberdade de agressão, de destruição”. Liberdade para pessoas adultas implica na consciência de que ignorância do básico, a falta de educação e de contenção tem consequência sempre. Ninguém aqui é anja, minhas amigas, ninguém é ser de luz.

Todo mundo erra e muito, mas a liberdade que queremos usufruir como adultos não nos permite qualquer tipo de violência – sim: troça, desconsideração é um tipo insidioso, comum de violência. Se cotidiano e, algumas vezes, suportável, é violento desconsiderar a opinião, os sentimentos e as fragilidades de outras pessoas – principalmente quando não escondem o desconforto.

Ao contrário do que meu pai dizia, “bom cabrito tem de berrar”, porque “quem não berra, não mama”. Sigamos minhas amigas, porque a vida adulta, por si só, já é difícil demais para que qualquer violência seja tolerada ou, pior, estimulada.

Julie Kohlmann é Doutoranda em Filosofia do Direito, Mestre em Direito Civil, Especialista em Direito Penal e Associada ao IBDFAM – @juliekohlmannadvogada

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