
Minhas amigas, muitas devem saber da advogada que foi chamada a atenção por estar com seu bebê no colo enquanto participava de uma audiência, na modalidade online, junto ao Tribunal de Justiça do Amazonas. Foi questionada inclusive sua postura ética-profissional, pelo Tribunal.
Desnecessário dizer que o bebê não chorou, apenas murmurou. Desnecessário dizer que a advogada lactante tem preferência na ordem do dia de julgamento – e que apesar de feito o pedido lhe foi negada a antecipação por se tratar de audiência online. Desnecessário apontar a falta de conhecimento indesculpável do Desembargador a respeito da dupla, tripla jornada imposta à mulher trabalhadora. Tudo isto é tão evidente, sendo desnecessário insistir neste assunto.
O que é importante notar é que esta audiência contava com a participação de outras três mulheres, sendo duas do mundo jurídico: uma promotora de justiça e uma desembargadora. E isto revela muito de nosso próprio comportamento como pessoas.
Como estas outras mulheres, presentes na audiência, testemunhas do fato, simplesmente se mantiveram caladas? Por quê? Por que sempre é tão fácil apontarmos o dedo para mulheres violentadas e ficarmos silenciosas, indiferentes, coniventes com o que testemunhamos? Muitas de nós, inclusive, nos juntamos à agressão e fazemos coro contra outras mulheres agredidas, desrespeitadas, abusadas porque nos julgamos o que ouvimos dizer.
Qualquer mulher responsável única pela limpeza e manutenção da casa e alimentação de outrem sabe o tamanho do desafio – trabalhando ou não fora de casa, tendo ou não filhos, contando ou não com ajuda.
Então, por que nos silenciamos diante da violência? Por que não oferecemos apoio? O que estamos fazendo com o conhecimento que adquirimos? Quem duvida da importância da amamentação? Por que ainda problematizamos a presença de bebês e suas mães lactantes em espaços públicos, de trabalho? Creches, escolas públicas de qualidade é o mínimo.
Já passamos deste ponto, minhas amigas. Precisamos de novas configurações de ambiente de trabalho para a inclusão de mães lactantes. Ah! Há poucos dias, um advogado, acompanhado por seu filho de colo, esteve no Superior Tribunal de Justiça.
O gesto foi louvado – sendo notícia de repercussão nacional. A sessão de julgamento foi antecipada. A criança foi homenageada por um dos Ministros, sendo inclusive chamada pelo nome.
Qual o nome que se dá a isso?
Julie Kohlmann é Doutoranda em Filosofia do Direito, Mestre em Direito Civil, Especialista em Direito Penal e Associada ao IBDFAM – @juliekohlmannadvogada